domingo, 16 de dezembro de 2007

Sintomas iniciais em mulheres com infarto

Mulheres são significativamente menos prováveis que homens de queixar dor ou desconforto torácico. Contudo, estas diferenças não são provavelmente grandes o bastante para recomendar anúncios de saúde pública específicos para os sexos relacionados aos sintomas iniciais de síndrome coronariana aguda. Mais pesquisas devem investigar sistematicamente as diferenças entre os sexos na apresentação de síndromes coronarianas agudas e devem incluir esforços em coletar dados padronizados.

Referência:

Canto, JG et al. Symptom Presentation of Women With Acute Coronary Syndromes: Myth vs Reality. Arch Intern Med.
2007;167(22):2405-2413

Fraturas e densidade mineral óssea em adultas com deficiência da 21-hidroxilase

Mulheres com hiperplasia adrenal congênita por deficiência da 21-hidroxilase têm baixa densidade mineral óssea e risco aumentado de fraturas. A densidade mineral óssea deve ser monitorada, instituida profilaxia adequada e tratamento além de otimização das doses de corticóides a partir da puberdade.

Referência:

Falhammar, H et al. Fractures and Bone Mineral Density in Adult Women with 21-Hydroxylase Deficiency. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92:4643–4649

Diagnóstico de Feocromocitoma

Evidências recentes sugerem que as metanefrinas livres plasmáticas tenham alta sensibilidade para o diagnóstico de feocromocitoma. Entretanto as metanefrinas livres urinárias não foram analisadas. Em análise retrospectiva comparando metanefrinas livres urinária, ácido vanilmandélico urinário, catecolaminas urinária, catecolaminas plasmáticas para avaliar a sensibilidade e especificidade quanto ao diagnóstico de feocromocitoma.

Os autores concluem que as metanefrinas livres urinárias foram superiores ao ácido vanilmandélico urinário, às catecolaminas urinárias e às catecolaminas plasmáticas e é uma ferramenta valiosa no diagnóstico do feocromocitoma em adultos, especiamente aonde não há disponível as metanefrinas livres plasmática.

James G. Boyle et al. Comparison of Diagnostic Accuracy of Urinary Free Metanephrines, Vanillyl Mandelic Acid, and Catecholamines and Plasma Catecholamines for Diagnosis of Pheochromocytoma. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92:4602–4608. [Abstract]

Controvérsia: Qual o limite superior do TSH?

O que devem os médicos fazer diante de questões não respondidas sobre o limite superior normal para o TSH e como conduzir os pacientes com pequenas elevações nos níveis de TSH? Até estudos de grande escala resultarem em diretrizes e recomendações claras, propõem-se uma abordagem prática para o diagnóstico e intervenção.

Ao interpretar os valores de TSH deve-se considerar a idade do paciente, a presença ou ausência de anticorpos antitireóide, a presença de sintomas e a preferência do paciente. Pacientes com menos de 60 anos e níveis de TSH entre 2,5 a 4,5 mUI/L com anticorpos positivos podem estar em maior risco de desenvolverem hipotireoidismo franco e necessitam de seguimento. Qualquer mulher pensando em engravidar com anticorpos positivos e um TSH acima de 3 mUI/L deve-se avaliar terapia com levotiroxina. Os dados apresentados nesta publicação [por referencia aqui] oferecem fortes evidências que indivíduos acima de 70 anos com TSH abaixo de 7,5 mUI/L e anticorpos negativos são improváveis de ter insuficiência tireoideana e podem ter níveis de TSH adequados para a idade. Contudo, na presença de anormalidades imunológicas, clínicas ou ultra-sonográficas, os pacientes podem necessitar de seguimento a cada 6 – 12 meses com avaliações de TSH. Também é rasoável considerar um alvo terapêutico maior para pacientes idosos com hipotireoidismo em terapia com levotiroxina.

Referências:

Vahab Fatourechi. Upper Limit of Normal Serum Thyroid-Stimulating Hormone: A Moving and Now an Aging Target? J Clin Endocrinol Metab. 2007;92:4560–4562 [Full Text]

Surks MI, Hollowell JG. Age-specific distribution of serum thyrotropin and antithyroid antibodies in the U.S. population: implications for the prevalence of subclinical hypothyroidism. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92:4575–4582 [Abstract/Free Full Text]

domingo, 9 de dezembro de 2007

Hipertensão Sistólica em Idosos: Quão agressivo o tratamento deve ser?

Atualmente não há evidências em estudos clínicos aleatórios para diminuir a pressão arterial sistólica em pacientes com hipertensão sistólica a níveis inferiores a 140 mmHg. Apesar disso o 7 JNC apregoa como alvo níveis pressóricos inferiores a 140 mmHg na maioria dos casos e inferiores a 130 mmHg em diabéticos e nefropatas.

Não se discute a importância de se tratar a hipertensão sistólica, mesmo nos muito idosos (acima de 80 anos), para os quais os estudos mostram resultados positivos quanto à mortalidade e morbidade.

Referência:

Kapoor, JR et al. Systolic hypertension in older persons: how aggressive should treatment be?. Progress in Caridovascular Diseases. 2006; 48(6):397--406

Índice glicêmico, carga glicêmica e ingesta de fibras de cereais e o risco de diabetes tipo 2 em negras americanas

Dados do Black Women's Health Study foram usados para avaliar a relação entre o índice glicêmico, a carga glicêmica e a ingesta de fibras de cereais com o risco de diabetes tipo 2.

Durante os oito anos de seguimento, houve 1938 casos de diabetes. O índice glicêmico foi positivamente associado com o risco de diabetes tipo 2 e a ingesta de fibras de cereais foi inversamente associado com o risco de diabetes tipo 2. As associações mais fortes foram entre as mulheres que não tinham sobrepeso. Os autores concluem que o aumento as fibras de cereais pode ser um método efetivo em reduzir o risco de diabetes tipo 2 em mulheres negras.

Referência:

Krishnan, S et al. Glycemic Index, Glycemic Load, and Cereal Fiber Intake and Risk of Type 2 Diabetes in US Black Women. Arch Intern Med.
2007;167(21):2304-2309.

sábado, 8 de dezembro de 2007

Epigenética: Transmissão de características adquiridas

Há um mecanismo de alteração da expressão gênica que é mantido nas células filhas e até mesmo transmitidas à prole. Estas alterações não ocorre na seqüência de DNA mas através de mudanças como metilação do DNA ou modificações nas histonas – notadamente acetilação.

Um tipo especial de epigenética é o imprint (estampagem) em que um gene é expresso de acordo com a origem parental (se da mãe ou do pai) enquanto a outra cópia é silenciada.

Doenças metabólicas crônicas, como por exemplo, diabetes melito tipo 2 e doença cardiovascular, são mais comuns em adultos que nasceram com baixo peso ou foram expostos in utero a situações de estresse metabólico e que depois viveram em um ambiente rico em nutrientes e gordura.

Referência:

Ozanne, SE and Constância M. Nature Clinical Practice Endocrinology and Metabolism. 2007;7(3):539

Silêncio por tanto tempo: Férias

Abandonei este blog por tanto tempo para melhor aproveitar os congressos de Diabetes e de Atualização em Endocrinologia.

Findo este período de recesso estou novamente na ativa.

domingo, 4 de novembro de 2007

Topiramato contra dependência de álcool

O anticonvulsivante topiramato (Topamax®, Jassen-Cilag) tem se mostrado útil em várias doenças além da epilepsia. Uma mais nova utilidade é no tratamento da dependência ao álcool.

Pesquisadores da Universidade de Virgínia, Estados Unidos, liderados por Bankole Johnson estudaram o efeito do topiramato sobre o consumo de álcool em dependentes em estudo multicêntrico randomizado de 14 semanas de duração com o objetivo de determinar se o topiramato é seguro e eficaz comparado ao placebo. Foram excluídos pacientes com transtornos psiquiátricos outros que a dependência ao álcool e dependentes de drogas ilícitas; que estavam em uso de estabilizadores de humor, lítio, antipsicóticos, inibidores da anidrase carbônica, analgésicos opióides ou corticosteróides sistêmicos.

O grupo recebendo topiramato comparado com o placebo teve menos recaídas, teve menos dias de bebedeira pesada e melhores exames laboratoriais associados ao consumo de álcool, teve também mais efeitos adversos incluindo parestesia, perversão do paladar, anorexia e dificuldade de concentração.

Referência:

Bankole A. Johnson at al. Topiramate for Treating Alcohol Dependence: A Randomized Controlled Trial. JAMA; 2007, 298(14):1641-1651 [Abstract]

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Pioglitazona e o coração

Doenças cardiovasculares permanecem a principal causa de morte entre pacientes cm diabetes melito tipo 2. Embora o bom controle glicêmico tenha mostrado redução nos eventos microvasculares ainda há incertezas sobre os efeitos sobre os eventos macrovasculares.

Os agonistas do PPARγ atualmente vendidos no Brasil, rosiglitazona (Avandia®) e pioglitazona (Actos®), mostram efeitos diferentes sobre os lipídios plasmáticos. Ambos causam retenção de sódio com aumento do edema e precipitação de insuficiência cardíaca nos pacientes. A rosiglitazona em estudos e metanálises mostrou causar aumento no número de eventos cardiovasculares e uma tendência a aumentar a mortalidade cardiovascular.

Diante destes fatos sobre a rosiglitazona tornou-se necessário estabelecer se a pioglitazona apresenta algum risco cardiovascular. A metanálise conduzida por Lincoff e colaboradores com dados de estudos fornecidos pela indústria farmacêutica desenvolvedora e fabricante da pioglitazona (Takeda, Lincolnshire, Illinois, USA) tem como objetivo avaliar os efeitos da pioglitazona sobre a incidência de complicações cardiovasculares isquêmicas.

O end point primário composto de morte, infarto miocárdico não fatal ou acidente vascular cerebral não fatal ocorreu em 375 de 8554 (4,4%) dos pacientes recebendo pioglitazona e em 450 de 7836 (5,7%) dos pacientes recebendo terapia controle (tanto placebo quanto medicamentos ativos). Insuficiência cardíaca congestiva grave ocorreu em 200 (2,3%) dos que receberam pioglitazona contra 139 (1,8%). A composição de insuficiência cardíaca grave ou morte não foi significativamente aumentada entre os pacientes recebendo pioglitazona.

Esta metanálise demonstrou que a terapia com pioglitazona está associado com um risco de morte, de infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral significativamente menor em uma ampla população com diabetes melito tipo 2. Consistente com os efeitos sobre o edema o uso de pioglitazona aumentou a incidência de insuficiência cardíaca grave mas não aumentou a mortalidade.

Uma limitação importante é que a maioria dos estudos analisados não foram originalmente desenhados para avaliar resultados cardiovasculares e os end points não são avaliados por definições padronizadas.

Referência:

Lincoff et al. Pioglitazone and risk of cardiovascular events in patients with type 2 diabetes mellitus. JAMA. 2007;298(10):1180–1188

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Cirurgia bariátrica e sobrevida

A obesidade, definida como índice de massa corpórea (IMC – peso em kg dividido pelo quadrado da altura em cm) ≥35, está aumentando nos últimos anos em praticamente todo o mundo nas últimas duas décadas, a obesidade grave (IMC ≥40) tem um crescimento mais acentuado ainda. Atualmente o melhor tratamento para obesidade grave – que apresenta maior perda de peso e melhor manutenção do peso perdido – é a cirurgia bariátrica. A técnica mais usada atualmente entre as disponíveis é o bypass gástrico por mostrar melhor perfil de emagrecimento/complicações.

Em dois estudos publicados na conceituada revista The
New England Journal of Medicine relatam reduções na mortalidade por todas as causas, por doença cardiovascular e por câncer.

A pesquisa liderada por Stjötröm é um estudo prospectivo controlado de cirurgia bariátrica chamado Swedish Obese Sujects (S0S) em que pacientes obesos desejando cirurgia bariátrica foram pareados com obesos que não desejavam a cirurgia, após um seguimento médio de 10,9 anos os pacientes operados emagreceram entre 14 a 25% do peso de base e tiveram uma redução na mortalidade de 29%.

A pesquisa liderada por Adams foi um estudo de coorte retrospectivo com os dados dos controles obtidos das carteiras de motoristas pareados com pacientes que sofreram cirurgia de bypass gástrico. As mortes por todas as causas foram reduzidas por 40%, por diabetes 92% e por doença coronariana 56% e de câncer 60%. A despeito da redução nas mortes relacionadas às doenças após cirurgia de bypass gástrico o risco de morte por causas não relacionadas às doenças (como acidentes, intoxicações não intencionais e suicídio) aumentou em 58% entre os operados mostrando a necessidade de um completa avaliação psicológica e uma abordagem pós-operatória adequada de quaisquer problemas psicológicos que se agravem ou apareçam no pós-operatório.


Referências


Stjötröm et al. Effects of bariatric surgery on mortality in Swedish obese subjects. N Engl J Med. 2007;357(8):741–752

Adams et al. Long-term mortality after gastric bypass surgery. N Engl J Med. 2007;357(8):753–761

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Gordura hepática e síndrome metabólica

A síndrome metabólica representa um agrupamento de fatores de risco que supõem aumentar o risco de doenças cardiovasculares e de diabetes melito tipo 2 mais que os componentes individuais [obesidade abdominal, triglicérides elevados, HDL colesterol baixo, hiperglicemia e hipertensão]. A fisiopatologia da síndrome metabólica inclui a resistência à ação da insulina.

A insulina normalmente inibe a produção de glicose e de VLDL (triglicérides) pelo fígado. A acumulação de gordura no fígado por causas não alcoólicas está associado com resistência à insulina.

Este estudo examina a relação entre o conteúdo de gordura hepática e alguns marcadores que podem ser medidos na prática clínica. Foram recrutados não diabéticos entre 20 a 56 anos sem doença aguda ou crônica conhecidas (exceto obesidade, hipertensão e dislipidemia), que não consumissem mais de 20 gramas de álcool por dia.

Os indivíduos com síndrome metabólica tinham um maior conteúdo de gordura hepática comparados com aqueles sem a síndrome.

O conteúdo de gordura hepática correlacionou melhor com a gordura intra-abdominal que com a subcutânea.

De todos os parâmetros analisados, os níveis em jejum de insulina e de peptídio C tiveram as correlações mais fortes com conteúdo de gordura hepática.

As concentrações de ALT e AST correlacionaram positivamente com a gordura hepática.

Concluíram que o conteúdo hepático de gordura, medido pelo método mais confiável atualmente disponível, foi 4 vezes maior em sujeitos com síndrome metabólica independente da idade, sexo e índice de massa corpórea, aumentando em proporção ao número de componentes da síndrome apresentados.

Em relação aos critérios do IDF para a síndrome metabólica a circunferência da cintura foi que melhor se correlacionou com o conteúdo de gordura hepática.

Os níveis séricos de ALT não são bons marcadores de gordura hepática. Os níveis de AST são ainda piores.

Os dados apresentados reforçam a noção de que as pessoas que acumulam excesso de gordura no fígado são aquelas que desenvolvem a síndrome metabólica.

Referência

Kotronen, A. at al, Liver Fat in the Metabolic Syndrome. J Clin Endocrinol Metab.
2007; 92(9):3490–3497

terça-feira, 2 de outubro de 2007

É a obesidade contagiosa?

A prevalência da obesidade está crescendo em todo o mundo em um ritmo acelerado nas últimas décadas e este aumento não pode ser explicado por mudanças genéticas da população. Este aumento tem ocorrido entre todos os estratos socioeconômicos o que apóia as explicações baseadas em fatores socioambientais.

Este trabalho estuda a obesidade como um fenômeno que pode se espalhar de pessoa a pessoa, espalhando-se dentro de uma rede social. O ganho de peso de uma pessoa pode influenciar o ganho de peso de outras pessoas próximas na rede social. Possuir contatos sociais com pessoas obesas pode alterar a tolerância da pessoa ao excesso de peso ou pode influenciar a adoção de hábitos específicos, como tabagismo, padrão de alimentação, atividade física etc.

Avaliaram-se as conexões de 12.067 pessoas por 32 anos. Vários aspectos da disseminação da obesidade foram examinados, incluindo a existência de ajuntamentos de pessoas obesas dentro da rede, a associação entre o ganho de peso de uma pessoa e o ganho de peso entre dos contados sociais, a dependência destas relações sobre a natureza dos laços sociais – isto é, laços entre amigos de diferentes tipos, irmãos, companheiros e vizinhos – e a influência do sexo, tabagismo e distancia geográfica entre os domicílios das pessoas na rede social.

Encontrou-se uma probabilidade 45% maior de alguém se tornar obeso quando possui um contato próximo obeso, o risco é de 20% para um contato de segundo grau e de 10% para três graus de distância. Para uma distância de quatro graus não houve aumento do risco. A distância geográfica não parece influenciar o risco de obesidade, o aumento ou a proximidade geográfica entre as residências não influenciou o risco de peso.

Parece que a obesidade pode se espalhar em redes sociais em um padrão quantificável e observável que depende dos laços sociais. Além disso, a distância social parece ser mais importante que a distância geográfica dentro das redes.

Referência:

Christakis, N. A. & Fowler, J. H. The spread of obesity in a large social network over 32 years. N Engl J Med. 2007; 357(4):370-379

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Antidiabético oral na gestação

Em pesquisa liderada por Jean C. Silva avaliou o uso de glibenclamida (Daonil®, Sanofi-Aventis) no controle do diabetes melito gestacional comparado com insulina. O estudo foi aleatório e aberto (não foi cego quanto ao tratamento utilizado pois a insulina necessita de injeção). Apesar de encontrar glicemias médias idênticas entre os dois grupos as que usaram glibenclamida tiveram mais filhos macrossômicos e mais episódios de hipoglicemia neonatal mostrando diferenças nos desfechos e sugerindo pior controle.

Os autores concluem que a glibenclamida pode ser a droga de escolha no diabetes melito gestacional, entretanto quais pacientes seriam as melhores candidatas não é ainda conhecido. Até que se saiba mais em quem a glibenclamida possa controlar bem a glicemia na gestação o tratamento com deve continuar na prática diária com a insulina e considera-se o uso da glibenclamida apenas em contexto experimental.

Referência:

Silva Jean C., Bertini Anna M., Taborda Wladimir, Becker Felipe, Bebber Fernanda R.L., Aquim Gabriela M.D.C. et al . Glibenclamide in the treatment for gestational diabetes mellitus in a compared study to insulin. Arq Bras Endocrinol Metab. 2007 ; 51(4): 541-546. [Resumo]

Gravidez após terapia com iodo radioativo

A pesquisadora Carmen Dolores G. Brandão da Universidade Federal do Rio de Janeiro avaliou a taxa de aborto e anomalia congênita em mulheres que engravidaram após receberem terapia com iodo radioativo para carcinoma diferenciado da tireóide.

Foi um estudo caso-controle, que apresenta problemas metodológicos, mas que é o tipo de estudo possível de realizar nesta situação clínica.

Não foi encontrado aumento nos desfechos desfavoráveis nas mães e nem nas proles após iodo radioativo para tratamento de carcinoma diferenciado da tireóide.

Este estudo é mais um reforço na segurança da terapia com iodo radioativo quanto a saúde reprodutiva feminina, e muito importante pois é de casuística brasileira.

Fonte:

Brandão Carmen Dolores G., Miranda Angélica E., Corrêa Nilson Duarte, Sieiro Netto Lino, Corbo Rossana, Vaisman Mario. Radioiodine therapy and subsequent pregnancy. Arq Bras Endocrinol Metab. 2007; 51(4): 534-540. [Resumo]

domingo, 30 de setembro de 2007

Ricos e pobres comem mal no Brasil

Em pesquisa realizada pela UNIFESP e USP, patrocinada pelo laboratório farmacêutico Wyeth Consumer Healthcare, foram ouvidas 2.420 pessoas (entrevistas de porta em porta), em 150 municípios das cinco regiões do país. Constatou-se que tanto as classes mais abastadas, A e B, quanto as mais carentes, C, D e E, comem vitaminas a menos que o necessário. Há deficiência de vitaminas C (encontrada nas frutas cítricas), A (vegetais de pigmento amarelo), D (gema de ovo e fígado) e E (óleos vegetais e soja, por exemplo), cálcio (leite e verduras escuras) e magnésio (cereais em grãos). Entre entrevistados das classes A e B, o índice de sobrepeso/obesidade encontrado foi de 60%, oito pontos percentuais acima da taxa de pessoas das classes C, D e E (52%). Baixo peso (IMC inferior a 18,5) só foi encontrado em 3% dos pesquisados, sem diferenças de gênero ou classe social.

Esses dados sugerem que a população brasileira parece ter um excesso de amido, açúcar e gordura na dieta com falta de legumes, verduras e outros vegetais frescos na mesa. Também há um crescente aumento no consumo de bebidas adoçadas (como refrigerantes e sucos processados ou artificiais) em detrimento de água e leite.

"A gente esperava que nas classes A e B houvesse um consumo melhor de vitaminas e minerais. Mas não houve diferença nem entre as classes sociais nem entre as regiões do país. Isso mostra que o problema não é econômico, mas sim de hábito cultural", afirma o reumatologista Marcelo Pinheiro, professor da Unifesp e coordenador do estudo. A única diferença entre as classes sociais está no consumo de cálcio. Entre as classes A e B, a média é de 650 mg diários. Já entre o público D e E, é de 350 mg/dia. A média nacional é de 400 mg/dia, um terço da recomendação internacional.

Para Andrea Ramalho, professora de saúde pública da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultora do Ministério da Saúde, a população sabe o que é uma dieta equilibrada, mas, em geral, não põe o conhecimento em prática.
"E não o faz porque diz que não tem tempo, não tem onde comer, não gosta. Mudar padrão alimentar não é uma tarefa fácil nem obtida em curto espaço de tempo", afirma.

Fonte:

Folha de São Paulo, quarta-feira, 26 de setembro de 2007 [link, é necessário ser assinante]

sábado, 29 de setembro de 2007

Pioglitazona e Rosiglitazona possuem efeitos diferentes sobre as Lipoproteínas

Uma metanálise recente mostrou um aumento no risco de eventos cardiovasculares com o uso de rosiglitazona, uma medicação anti-diabética oral da classe das glitazonas. As glitazonas diminuem a glicemia por ativarem os receptores PPARγ, principalmente nas células gordurosas, favorecendo a transformação de pré-adipócitos em adipócitos capazes de captar glicose da corrente sangüínea e acumulá-la na forma de gordura.

Não se sabe se este efeito de aumento dos eventos cardiovasculares encontrado para a rosiglitazona é um efeito de classe, isto é, para todas as glitazonas ou se é um efeito característico da rosiglitazona.

Em estudo clínico aleatório comparando os efeitos das duas glitazonas atualmente disponíveis no mercado, pioglitazona (Actos®, Abbot) e rosiglitazona (Avandia®, Glaxo Smith Kline), sobre a concentração e tamanho das lipoproteínas.

Os achados foram que o tratamento com a pioglitazona aumentou menos a concentração de VLDL e diminuiu mais o tamanho das VLDL que o tratamento com a rosiglitazona. O tratamento com pioglitazona reduziu a concentração de partículas de LDL enquanto a rosiglitazona a aumentou. Ambos os tratamentos aumentaram o tamanho das partículas de LDL, com a pioglitazona tendo um maior efeito. Enquanto o tratamento com pioglitazona aumentou a concentração total de partículas de HDL, o tratamento com rosiglitazona a diminuiu; ambos aumentaram os níveis de HDL.

Para se responder a questão se é ou não um efeito de classe o aumento de eventos cardiovasculares encontrado para rosiglitazona é necessário a realização de estudos desenhados especificamente para este fim, entretanto, acumula-se cada vez mais evidências que a pioglitazona parece ter um perfil diferente de ação sobre as lipoproteínas e provavelmente tenha um efeito também diferente sobre os eventos cardiovasculares.

Referência:

Mark A. Deeg et al. Pioglitazone and Rosiglitazone Have Different Effects on Serum Lipoprotein Particle Concentrations and Sizes in Patients With Type 2 Diabetes and Dyslipidemia. Diabetes Care
2007; 30(10):2458–2464 [Abstract]

Por que analgésicos não funcionam para pessoas com fibromialgia?

Pessoas que sofrem de uma condição comum de dor crônica conhecida como fibromialgia muitas vezes não respondem a medicamentos que aliviam a dor em outras pessoas. Nova pesquisa da University of Michigan Health System ajuda a explicar o que pode ser: pacientes com fibromialgia têm capacidade reduzida de ligação de um tipo de receptor no cérebro que é o alvo de medicações analgésicas opióides como a morfina.

"A disponibilidade reduzida do receptor foi associado com uma maior dor entre as pessoas com fibromialgia" disse o autor líder dos pesquisadores Richard E. Harris, Ph.D., pesquisador na divisão de reumatologia no departamento de medicina interna da U-M Medical School.

A notícia completa no ScienceBlog.

sábado, 22 de setembro de 2007

Eficácia e segurança da terapia com incretinas no diabetes melito tipo 2

Amori, R. E.; Lau, J. and Pittas, A. G. Efficacy and Safety of Incretin Therapy in Type 2 Diabetes: Systematic Review and Meta-analysis JAMA, 2007; 298, 194-206

A melhor compreensão dos efeitos das incretinas na patofisiologia do diabetes melito tipo 2 permitiu o desenvolvimento de novos agentes anti-diabéticos. O efeito das incretinas é aumentar a secreção de insulina estimulada pela glicose através de peptídeos secretados pelo intestino que são liberados na presença de glicose e nutrientes dentro da luz intestinal.

As incretinas são representadas principalmente por dois peptídeos, o polipeptídeo insulinotrópico dependente da glicose (GIP, glucose-dependent insulinotropic polypeptídeo) e o peptídeo glucagon-símele 1 (GLP-1, glugagonlike peptide 1). As incretinas são rapidamente degradadas pela enzima dipeptidil peptidase 4 (DPP4, dipeptidyl diptidase 4), e por isso apresentam uma curta meia-vida no sangue (minutos).

Pela metanálise dos trabalhos os autores concluem que a terapia baseada em incretinas diminui tanto a glicemia de jejum e pós-prandial, contudo, a melhora da glicemia pós-prandial foi maior. Ao contrário de quase todas as terapias atuais contra o diabetes melito tipo 2 os análogos de GLP-1 (exanatide, Byetta®, Amylin & Lilly) foi associado com modesta mas sustentada e progressiva perda de peso ao longo de 30 semanas que não é explicado somente pelo acometimento de náuseas.

Houve pouca hipoglicemia, reforçando a dependência da glicose para ação das incretinas, mas quando associado com secretagogos houve mais eventos de hipoglicemia alertando para a necessidade de redução da dose dos secretagogos de insulina quando do iníco da terapia com incretinas.

Poucos efeitos adversos foram observados, sendo o mais comum náusea. Os inibidores de DPP4 mostraram um aumento no número de infecções das vias aéreas superiores e do trato urinário, além de um aumento nos episódios de cefaléia. Até mais dados sobre segurança estarem disponíveis pode ser prudente evitar o uso de inibidores de DPP4 (sitagliptina, Januvia®, Merck Sharp & Dohme) em pacientes com história de infecções do trato urinário recorrentes e de cefaléia crônica.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

O câncer de mama começa no útero?

O câncer de mama cresce em incidência desde os meados do século XX e agora já é o segundo mais comum câncer entre as mulheres norte-americanas. Passou de 1 caso em 22 mulheres em meados de 1950 para 1 caso em 8 há 5 anos e agora está em 1 caso em 7. Houve um aumento no risco de mais de 3 vezes em apenas uma geração, em tão pouco tempo não houve mudanças genéticas na população para explicar este aumento, portanto uma boa hipótese é que o ambiente esteja causando esta alteração e como ambiente pensa-se em dieta, estilo de vida e exposição à químicos.

Entre das substâncias recentemente introduzidas pelo homem no ambiente uma das mais suspeitas de contribuir para o aumento no câncer de mama são os estrógenos ambientais ou xenoestrôgenos, porque sua introdução precede a elevação da incidência de câncer.

A primeira pista que a exposição pré-natal à estrógenos causava câncer veio das mulheres expostas durante a vida fetal ao dietilestilbestrol (DES) usado nos Estados Unidos, Europa e Austrália como anti-abortivo até que se descobriu que seu uso levava a adenocarcinoma de células claras de vagina e outras anormalidades. Estas mulheres estão chegando agora a idade mais comum de câncer de mama e aparentemente apresentam um risco maior de câncer (mas ainda não existem dados conclusivos). Outros estudos parecem ligar um maior risco de câncer de mama às mulheres expostas intra-útero a níveis, mesmo que pouco, elevados de estrógenos.

Em busca de tais efeitos a Drª. Ana Soto e o Dr. Carlos Sonnenschein expuseram camundongos e ratos intra-útero ao composto estrogênico bisfenol A (biphenol A, BPA). O BPA é amplamente usado para produzir plásticos policarbonados e resinas epóxi, está presente em uma miríade de produtos, incluindo o interior de latas de conservas recobertas, garrafas de água, vasilhas de comida, potes de papinhas de bebê, garrafões de água, materiais dentais, barris de vinho, lentes ópticas, coberturas protetoras, adesivos, esmalte protetor de janelas, CD e DVDs e papel térmico. BPA induziu o desenvolvimento de hiperplasia ductal nas quatro doses testadas e carcinoma in situ nas duas dosagens mais altas. As glândulas mamárias se desenvolvem de modo alterado em animais expostos a estes compostos durante a vida fetal e as alterações podem ser notadas desde o feto até a vida adulta.

A Drª. Soto nota que o BPA não é um mutagênico, portanto seu papel em causar câncer não pode ser explicado pela teoria convencional de mutação somática, que diz o câncer surgir do acúmulo de mutações no DNA de células individuais que então se dividem indefinidamente. Neste caso o câncer parece surgir quando há alteração no desenvolvimento do tecido mamário pelo excesso de estrógeno, para haver formação da mama deve haver um diálogo entre as células ductais e as células estromais. O câncer é uma alteração deste diálogo, é um problema de má compreensão entre diferentes tipos de células.

Pode-se discordar da interpretação de como caracterizar o câncer, mas é difícil negar os efeitos da exposição pré-natal a químicos como o BPA. Mesmo quantidades insignificantes parecem ter impacto e o BPA é apenas um dos muitos xenoestrógenos e outros análogos de hormônios. Além das suas propriedades estrogênicas o BPA é também antagonista dos hormônios da tireóide.

Referências:

Coleman W et al. Regulation of the differentiation of diploid and aneuploid rat liver epithelial (stem-like) cells bi the liver microenviroment. Am J Pahol. 1997;142:1373–1382

McCullough K et. al. Plasticity of the neoplastic phenotype in vivo is regulated by epigenetic factors. Proc Natl Acad Sci U S A, 1998;95:15333–15338.

McCullough AR et al. Age-dependent induction of hepatic tumor regression by the tissue microenvironment after transplantation of neoplastically transformed rat liver epithelial cells into the liver. Cancer Res, 1997;57:1807–1873.

• Maffini MV et al. Stromal regulation of neoplastic development: Age-dependent normalization of neoplastic mammary cells by mammary stroma. Am J Pathol, 2005;67:1405–1410.

Como o café eleva o colesterol

O consumo de café parece ser saudável e prevenir o desenvolvimento de diabetes melito tipo 2, hipertensão, síndrome metabólica e doença cardiovascular quando consumido regularmente e sem excessos. Entretanto é sabido que o café expresso ou preparado sem o uso de coador pode elevar o colesterol e mesmo aumentar o risco de doença cardiovascular.

O cafestol, um diterpeno, é a mais potente substância presente na dieta humana capaz de elevar o colesterol plasmático. Como ele causa o aumento do colesterol e dos triglicérides no sangue começa a ser melhor entendido após estudos realizados pela Marie-Louise Ricketts, Ph.D. no Baylor College Fo Medicine em Houston, Texas.

O cafestol inibe a enzima CYP7A1, principal passo limitante na síntese de ácidos biliares, altera o perfil de expressão gênica hepática de enzimas metabolizadoras de lipídios e desintoxicantes e atua como inibidor dos receptores FXR e PXR. O efeito antagonista sobre os receptores FXR e RXR no fígado e intestino explicam a maior parte dos efeitos sobre os lipídios plasmáticos.

Referências:

Marie-Louise Ricketts, et al. The Cholesterol-Raising Factor from Coffee Beans, Cafestol, as an Agonist Ligand for the Farnesoid and Pregnane X Receptors
Mol. Endocrinol.
, 2007; 21(7): 1603 – 1616 [Abstract]

sábado, 1 de setembro de 2007

Vinho tinto pode diminuir risco de câncer de próstata, aponta estudo

Vinho tinto pode diminuir risco de câncer de próstata, aponta estudo
Red Wine Compound Shown To Prevent Prostate Cancer | Science Blog

Mais evidências em ratos que o resveratrol, composto encontrando no vinho, principalmente o tinto, protege contra tumores. O que é necessário são estudos em humanos.
Enquanto isso aos que já consomem bebidas alcoólicas manter o consumo de até 2 copos por dia para homens e 1 copo por dia para as mulheres, preferencialmente às refeições.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Administração correta de insulina com seringas

A correta utilização de insulina requer técnicas e materiais adequados para o efetivo preparo e administração. Geralmente os frascos de insulina devem ser guardados refrigerados entre 2°C a 8°C. O melhor local pra guardar a insulina é longe do congelador ou das placas de resfriamento, a porta da geladeira não é adequada pois a temperatura varia muito com a abertura da porta. A insulina quando aplicada gelada pode causar irritação, para minimizar pode-se manter em temperatura ambiente (até 30°C) o frasco de insulina em uso por até 30 dias, devendo-se descartar após este prazo. Agitação excessiva, temperaturas menores de 2°C ou superiores a 30°C causam perda de potência. Durante viagens a insulina não dever ser transportada em recipientes com gelo, sim mantida a temperatura ambiente e protegidas de extremo de temperaturas e luz solar para depois retornar à geladeira.

As seringas devem ser próprias para insulina. As que possuem agulha removível podem apresentar espaço morto na ponta (gargalo) de até 5U que não é computada pela escala numérica, são adequadas para uso de insulina de um único tipo ou pré-mistura mas quando usadas para se misturar dois tipos de insulina (por exemplo regular e NPH) a presença do espaço morto pode fazer com que a mistura contenha mais da insulina colocada primeiro. Para se misturar dois tipos de insulina na seringa devem-se usar seringas com agulha acoplada ou as sem espaço morto (êmbolo com pistão).

O comprimento da agulha deve ser de acordo com a massa corpórea do paciente. Pacientes com IMC ≤25 agulhas até 8 mm são adequadas, para pacientes com IMC >25 agulhas de 12,7 ou 13 mm.

A introdução de ar nos frascos para o preparo da dose é imprescindível. A formação de vácuo dificulta a retirada da dose adequada, impede o total aproveitamento da insulina contida no frasco e no caso de misturas, provoca a aspiração da insulina rápida ou ultra-rapida já contida na seringa para dentro do frasco de NPH ou ultra-lenta.

A técnica correta de se misturar insulina rápida ou ultra-rápida com insulina NPH é primeiro injetar ar nos frascos na quantidade da dose a ser aspirada. Depois de injetado o ar aspira-se sempre primeiro a insulina rápida ou ultra-rapida e então aspira-se a NPH. A mistura de insulina regular e NPH pode ser armazenada na seringa por até 30 dias sob refrigeração. A mistura de ultra-rápida (lispro e aspart) deve ser administrada imediatamente após o preparo. A insulina gargina não deve ser misturada com qualquer outra insulina por causa do baixo pH de seu diluente.

As injeções de insulina devem ser feitas no tecido subcutâneo situado abaixo da derme, constituído de tecido aureolar frouxo com células gordurosas de volume variável. A prega cutânea deve sempre ser feita antes da introdução da agulha e desfeita antes da injeção da insulina ou até a retirada da agulha. A prega é dispensável apenas quando se usa agulhas de 5mm de comprimento. O ângulo é de 90° com a agulha adequada, em crianças ou pessoas muito magras pode-se introduzir com ângulo de 45°. A aspiração para verificar se há retorno de sangue não é necessário quando se usa agulhas e a técnica corretas. O rodízio do local de aplicação é fundamental para evitar alterações lipodistróficas.

A reutilização de seringas e agulhas é tema controverso não sendo recomendado pelos fabricantes nem pela ANVISA, mas tal prática é muito comum. Há conservantes nos frascos de insulina que inibem o crescimento bacteriano minimizando o risco de contaminação. Para se reaproveitar seringas e agulhas é preciso cuidado de se utilizar técnica asséptica e trocar sempre a seringa quando começar a apresentar perda da graduação e a agulha quando estiver romba.

domingo, 19 de agosto de 2007

Sabonete comum é até melhor que sabonete anti-séptico

Sabonetes anti-sépticos para uso domiciliar não são melhores que os sabonetes comuns para a saúde e podem até interferir na eficácia de alguns antibióticos.

Segundo estudo publicado por Allison E. Aiello, Elaine L. Larson e Stuart B. Levy os sabonetes anti-sépticos para uso domiciliar contendo triclosan em concentrações variando de 0,1% – 0,45% não são mais eficazes que sabonete comum em prevenir doenças infecciosas nem reduzir os níveis de bactérias das mãos. Além disso estudos em laboratório (in vitro) demonstraram resistência cruzada entre bactérias adaptadas ao triclosan e à antibióticos.

A equipe não pesquisou outros anti-sépticos também em uso em produtos para o lar como cloro ou álcool. Mas não parece haver suspeitas sobre eles.

Referência:

Aiello, A. E. et al. Consumer Antibacterial Soaps: Effective or Just Risky? Clinical Infectious Diseases.
2007; 45(2 Supp):S137-S147 [Abstract]

Science Blog : Plain soap as effective as antibacterial but without the risk

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Solução de Lugol Reduz Sangramento na Cirurgia da Tireóide na Doença de Graves

Em publicação liderada por Serdar Tezelman da Universidade de Istambul, Turquia, demonstrou com análise por ultra-som com Doppler e por imuno-histoquímica que a administração de solução de Lugol (Solução em água de iodeto de potássio e iodo) no pré-operatório iniciada 10 dias antes da cirurgia diminuiu o sangramento intra-operatório, o fluxo de sangue medido pelo Doppler e a densidade de vasos sanguíneos da tireóide.

Este foi um dos primeiros, se não o primeiro estudo a usar imuno-histoquímica para avaliar o efeito da solução de Lugol sobre a tireóide na doença de Graves.

Referência:

Erbil Y et al. Effect of Lugol solution on thyroid gland blood flow and microvessel density in the patients with Graves' disease. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(6):2182–2189 [Abstract]

domingo, 12 de agosto de 2007

Patofisiologia da Fibromialgia

Micha Abeles e colaboradores em revisão sobre a patofisiologia da fibromialgia concluem que há uma crescente quantidade de evidências sugerindo que a fibromialgia resulte de um processamento central anormal da dor ao contrário de uma disfunção nos tecidos periféricos onde a dor seja percebida.

O que parece claro é que o pacientes com fibromialgia experimentam a sensação dolorosa de modo diferente que as pessoas normais, sentindo dor mesmo na ausência de injuria ou lesão.

Referência:

Abeles AM et al. Narrative review: the pathophysiology of fibromyalgia. Ann Intern Med, 2007;146(10):726-734

O que há de tão especial na dieta mediterrânea?

A começar pelo nome "Dieta Mediterrânea" que está errado, pois em volta do Mediterrâneo existem vários países com populações, culturas, religiões e estado econômico diferentes, portanto existem dietas mediterrâneas na verdade.

O "The Seven Country Study" encontrou diferenças na prevalência de doenças cardiovasculres de 5 – 10 vezes entre os países, com menor prevalência na ilha grega de Creta que teve uma mortalidade por doença cardíaca e por câncer três vezes menor que nos Estados Unidos.

A dieta tradiconal grega antes de 1960 é atualmente representada pela dieta tradiconal de Creta, que se assemelha a dieta provavelmente consumida pelos homens na era paleolítica com agricultura incipiente quanto à fibra, antioxidante, gordura saturada, gordura monoinsaturada e a proporção entre ácidos graxos n-3 e n-6. As dietas ocidentais atuais se desviaram da dieta paleolítica e estão associadas altas taxas de morte por doença cardiovascular, diabetes, obesidade e câncer.

A dieta de Creta é bastante rica em gorduras (~37% das calorias) mas a proporção de gorduras n-6:n-3 é 1–2 enquanto nos Estados Unidos e Ocidente desenvolvido é 15–16. É também abundante em antioxidantes. Mesmo os ovos ou a carne comida pelos cretenses possuem uma maior quantidade de ácidos graxos n-3 que equivalentes ocidentais que além de pouco ou nenhum n-3 têm os alimentos enriquecidos com ácidos graxos trans artificiais.

Em resumo o que parece haver de tão especial na dieta Grega, especialmente a de Creta pré-1960 é o alto teor de nutrientes funcionais, especialmente os seguintes:

  1. Uma ingesta mais balanceada de ácidos graxos essenciais derivados de vegetais, animais e animais marinhos com uma proporção n-6:n-3 de aproximadamente 2:1 contra 15:1 das dietas ocidentais;
  2. Uma dieta rica em antioxidantes (rica em vitamina C, vitamina E, β-caroteno, glutationa, resveratrol, selênio, pitoestrogenos, folato e outros fitoquímicos, compostos fenólicos derivados do vinho e óleo de oliva), alta ingesta de tomates, cebola, alho e especiarias (orégano, hortelã, alecrim, salsinha e endro (Anethum graveolens) ricos em fitoquímicos benéficos.

Os 7 mandamentos da Dieta Ômega (por Simopoulos e Robinson):

  1. Coma comidas ricas em ácidos graxos ω-3 tais como peixes de água gelada (salmão, truta, atum, arenque, cavala), castanhas, óleo de canola, linhaça e vegetais folhosos verdes. Ou se preferir tome suplementos de ω-3.
  2. Use óleos monoinsaturados como o azeite e óleo de canola como principal gordura.
  3. Coma sete ou mais porções de vegetais ou frutas diariamente.
  4. Coma mais proteína vegetal, incluindo ervilha, feijão e nozes.
  5. Evite gordura saturada comendo carnes magras e leite e laticínios desnatados ou com teor reduzido de gordura.
  6. Evite óleos ricos em ω-6 incluindo óleo de milho, cártamo, girassol, óleo de soja e algodão.
  7. Coma o mínimo possível de gorduras trans por evitar margarinas e gordura vegetal (gorduras hidrogenadas que não sejam livres de gordura trans), biscoitos e doces industrializados, frituras e a maioria dos lanches, misturas pré-fabricadas e comida preparada industrializada.

Referências:

Simopoulos AP. The mediterranean diets: what is so special about the diet of greece? The scientific evidence. J Nutr.
2001; 131(11 Suppl):3065S-3073S

Ghrelina inibe a sede com muita potência

Estudo japonês liderado por Yoichi Ueta encontrou que a inibição da ingesta de água em ratos após a privação de água por 24 h foi superior a exibida pelo Peptídeo Natriurético Atrial (ANP), até então o mais potente inibidor da ingestão de água conhecido. A Grelina inibiu a ingesta de água na proporção que aumentou a ingesta de comida, o ANP não apresenta efeito sobre a ingesta de comida.

Os pesquisadores dizem que ainda é preciso esclarecer o mecanismo central de ação da Grelina na redução da ingesta de água e a relação com o aumento da ingesta de comida.

Referência:

Hirofumi H, Hiroaki F, Makoto K, et al. Centrally and Peripherally Administered Ghrelin Potently Inhibits Water Intake in Rats. Endocrinology. 2007;148(4):1638–1647

sábado, 4 de agosto de 2007

Obesidade em adolescentes e sibutramina

Em estudo holandês adolescentes com obesidade foram tratados com sibutramina 10 mg ou com placebo, tiveram medidos a composição corporal e o gasto energético (taxa metabólica basal).

O estudo foi desenhado para avaliar o efeito da sibutramina combinada com um programa dietético de restrição calórica e de fomento à atividade física sobre a composição corporal e o gasto energético em adolescentes obesos.

Foram estudados 12 adolescentes em cada grupo que apresentavam um excesso de peso considerado obesidade pelo IMC acima do percentil 97 ou com uma dobra cutânea triceptal maior que o percentil 97, a fase de intervenção ativa (medicação ou placebo) durou 12 semanas mais um período de observação de também 12 semanas.

Ambos os grupos diminuíram de modo semelhante o IMC durante a fase ativa, mas o grupo da sibutramina parou de emagrecer durante a fase de observação enquanto o grupo placebo continuou a perder peso. Pode ter contribuído para a não superioridade da sibutramina o grande enfoque na restrição dietética e na atividade física e o pequeno número de participantes com grande amplitude do IMC.

Durante este estudo que mediu com técnicas bastante precisas a composição corporal e a taxa metabólica basal o grupo da sibutramina manteve, mesmo durante a restrição calórica e perda de peso, a taxa metabólica basal constante ao contrário do grupo placebo.

Em conclusão o efeito da sibutramina no IMC não foi significativo.

Referência

Van Mil, EGA et al. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(4):1409–1414 [Abstract]

Outros estudos inclusive com resultados positivos [Busca PubMed]

domingo, 29 de julho de 2007

Miméticos da Restrição Calórica

Desde as primeiras décadas do século XX apareceram pesquisas demonstrando que a restrição de comida, isto é, a restrição de calorias aumenta a longevidade e diminui os danos causados pelo envelhecimento, incluindo doenças degenerativas, alterações fisiológicas do envelhecimento e até mesmo câncer.

Em pesquisas realizadas em roedores a restrição calórica diminuiu a incidência e atrasou o aparecimento de doenças relacionadas ao envelhecimento, aumentou a resistência à toxicidade e ao estresse e manteve o funcionamento em estados mais joviais que os controles.

Ainda se questiona se em humanos, animais de ciclo de vida longo, a restrição calórica mostraria os mesmos benefícios que mostrou em animais de ciclo de vida mais curtos. Estudos já realizados em cães, vacas e resultados preliminares em macacos Rhesus sugerem que a restrição calórica também é benéfica aos humanos. Corrobora com isso estudos em humanos centenários e outros estudos observacionais, apesar de problemas metodológicos inerentes.

Deste a introdução do conceito de miméticos da restrição calórica por Lane et al. em trabalho de 1998 este termo foi usado com um amplo significado. É proposto que miméticos da restrição calórica sem aplicados a substâncias que preencham estes requisitos:

Redução do estresse e dos danos oxidativos.
  1. Redução da glicação de macromoléculas.
  2. Redução da lesão e aumento no reparo do DNA.
  3. Redução da inflamação e auto-imunidade.
  4. Aumento da eficiência metabólica mitocondrial para proteger a membrana plasmática.
  5. Redução da lesão aos dos componentes celulares, tais como lisossomas ou peroxissomas, que tenham impacto negativo na proteólise autofágica.
  6. Aumente a manutenção dos padrões de expressão gênicos relacionados à idade.
  7. Aumente a proteção contra o estresse ou hormese.

A hipótese da hormese da restrição calórica propõe um papel ativo da proteção ao estresse. A restrição calórica causaria um baixo nível de estresse ao organismo que ativaria respostas ao estresse protegendo a uma variedade de processos de envelhecimento. O conceito de hormese é derivado da toxicologia onde o termo denomina o conceito que pequenas doses de uma toxina pode ter um efeito benéfico a longo prazo por condicionar o organismo aumentando a resposta ao estresse.

Pesquisadores buscam encontrar mecanismos celulares e genéticos que possam ser alvo de miméticos da restrição calórica. Tais esforços focam em níveis mais baixos, localizados no núcleo, identificando, por exemplo, a classe de genes sirtuina (Sir2 e SIRT1, principalmente) que atuam como desacetilases de histonas regulando a expressão gênica. Outros pesquisadores buscam como alvo vias energéticas que mimetizam a resposta fisiológica à restrição calórica aumentando a resposta ao estresse. Esta estratégia surgiu das crescentes evidências de que as vias sensoras de energia parecem ser críticas na regulação do envelhecimento em um número de sistemas modelo. Vários genes foram identificados no verme Caenorhabiditis elegans que regulam a resposta ao ambiente com restrição calórica (age-1, daf-2, daf-16, daf-18, akt-1, akt-2 entre outros) que são homólogos à insulina/fator de crescimento insulina-símile-1 (IGF-1) em mamíferos. A redução da sinalização nestas vias também causa aumento da longevidade em mamíferos mesmo apresentando resistência à insulina e intolerância à glicose.

Muitos pesquisadores vêem estes achados em invertebrados e vertebrados como razões para procurar genes únicos reguladores da longevidade como alvos promissores para o desenvolvimento de miméticos de restrição calórica, contudo uma conclusão importante que pode ser retirada destes estudos é que manipulações nas vias processadoras de energia em pontos mais altos ou mais baixos com resultados semelhantes. Quando se considera que alvos mais baixos podem ser mais eficazes que alvos mais altos nessas vias é importante lembrar que os efeitos restrição calórica são produzidos por manipulação em nível muito alto – reduzindo a disponibilidade de comida ao organismo. Portanto uma varredura de miméticos da restrição calórica deve procurar por uma estratégia que manipule os sistemas sensores de energia.

Inibição da Glicólise – A inibição da glicólise com a 2-deoxi-D-glicose (2DG), que inibe a enzima fosfohexose isomerase em ratos Fischer-344 reproduz algumas características da restrição calórica, notadamente a diminuição da temperatura, elevação dos glicocorticóides e da concentração de insulina. Alem disso, estudos in vivo e in vitro confirmam a capacidade da 2DG em aumentar a proteção ao estresse em vários tipos celulares e tecidos. Os dados acumulados claramente sugerem o perfil favorável da 2DG como mimético da restrição calórica, mas estudos de longo prazo ainda necessitam ser completados para avaliar os efeitos sobre a mortalidade e morbidade. Existem vários alvos para inibir a glicólise incluindo transportadores de glicose bem como outros passos enzimáticos, o ácido iodoacetato, que inibe a gliceraldeído-3-fosfato, mostrou em neurônio in vitro potencial de mimético da restrição calórica.

IGF-1 – Evidências surgidas de estudos com ratos anões despertaram a atenção sobre o IGF-1 como alvo para aumentar a longevidade. Na mosca-da-fruta (Drosophila) a manipulação do eixo insulina/IGF-1 aumenta a longevidade mas de modo não tão robusto quanto em ratos. Modificações na sinalização da insulina/IGF-1 em ratos aumenta a longevidade e parece ser semelhante à restrição calórica. Possíveis candidatos a inibir a via do IGF-1 até agora identificados incluem retinóides (fenretinida e os ácidos retinóides trans), isoflavonas da soja (genisteina e daidzeina), flavanóides (quercetina e kaempferol), análogos da somatostatina (octreotide) e moduladores seletivos dos receptores de estrogênio (tamoxifeno). Outra estratégia poderia ser pequenas moléculas inibidoras do IGF-1 e anti-senso IGF-1.

Sensibilizantes de Insulina – Compostos que aumentem a sensibilidade á insulina oferecem outra área de desenvolvimento de miméticos da restrição calórica. Menores níveis de insulina são marcadores de restrição calórica e preditores de longevidade. Há estudos de intervenção na via sinalizadora da insulina/IGF-1 com maior ênfase nas biguanidas (fenformina, buformina e metformina) e compostos derivados do alho françês (Galega officinalis).

Em um estudo em camundongos utilizando microarray profiling mostrou que o tratamento por 8 semanas a com metformina causou uma expressão gênica semelhante com a restrição calórica, sendo superior aos outros compostos testados (glipizida, rosiglitazona e isoflavona de soja).

Sirtuina – O crescente interesse nas sirtuinas como possíveis mediadores de baixo nível da longevidade em um grande número de organismos estimulou o desenvolvimento de candidatos a ativadores destas moléculas (buteína, piceatanol e resveratrol). O polifenol resveratrol tem recebido maior atenção e mostrou aumentar a longevidade de vermes e moscas-da-fruta de um modo dependente do Sir2 que parece mimetizar restrição calórica. Estas propriedades ainda precisam ser confirmadas em mamíferos.

PPARs e Tiazolidinedionas (Glitazonas) – Outros candidatos existem entre a grande classe de agonistas dos receptor proliferador ativado de peroxissomo (PPAR). Muitos compostos estão em desenvolvimento para o tratamento do diabetes melito e obesidade, atualmente há dois medicamentos em uso para o tratamento do diabetes melito tipo 2 – rosiglitazona e pioglitazona – que agem na isoforma gama (PPARγ). A uma clara ligação entre a ativação do coativador do proliferador ativado de peroxissomo 1 α (PGC-1α ) e a restrição calórica, indicando um potencial para ativadores do PPARα. Uso de ativadores do PPARδ também parece promissor.

Agonistas do PPARγ aumentam a sensibilidade à insulina mas também a adipogênese e começa-se a questionar esta estratégia. Ao contrário de ativar esta via mais eficaz seria modular a atividade para melhorar a homeostase da glicose sem estimular a adipogênese, mais recentemente estudos em humanos sugerindo aumento na mortalidade em diabéticos tratados com rosiglitazona reforça esta estratégia. Uma conexão entre SIRT1 e PPAR foi feita, pois SIRT1 inibe a transativação do PPARγ e inibe a acumulação de lipídios nos adipócitos. Tem-se teorizado que a redução no tecido adiposo pode ter efeitos benéficos sobre a longevidade relacionado a produção de adipocinas e indiretamente prevenindo desordens metabólicas relacionadas com o envelhecimento, como diabetes melito e aterosclerose.

Alvos lipídicos – A manipulação farmacológica de lipídios oferece alvos adicionais, mas estão atualmente bem menos desenvolvidos que outros alvos. O uso de drogas hipolipemiantes mostra eficácia na remoção de componentes celulares danificados por meio do fomento a autofagia. De outro modo, o níveis elevados de certos lipídios, como ácidos graxos de cadeia longa, durante a restrição calórica servem como sinalizadores importantes para a supressão de tumores bem como a proteção contra o estresse oxidativo. Alto nível de corpos cetônicos demonstrou efeito protetor a insultos neurotóxicos, contudo esta resposta ocorreu apenas em regimes de alimentação intermitente e não em restrição calórica contínua.

A manipulação de adipocinas parece ser promissora. O uso da leptina não funcionou por que a resistência à leptina desenvolve rapidamente. A adiponectina é outro alvo de interesse, pois está elevada em ratos sob restrição calórica, e a administração de adiponectina em ratos causa redução do peso e melhora do perfil metabólico.

A busca de miméticos da restrição calórica pode incluir uma grande variedade de alvos, portanto o desenvolvimento de processos de varredura pode acelerar muito a descoberta de novos candidatos. Já há disponível alguns modelos utilizando organismos simples como leveduras e também modelos in vitro utilizando cultura de tecidos. Após a escolha dos candidatos mais promissores eles devem ser testados em organismos mais complexos como vermes, moscas-da-fruta e camundongos e ratos. A análise de DNA
microarrays em modelos in vitro quanto in vivo também são muito úteis. Finalmente qualquer candidato deve ser avaliado quanto aos possíveis efeitos benéficos sobre a morbidade e longevidade em modelos animais relevantes.

Outro conceito importante que provavelmente guiará o desenvolvimento de miméticos da restrição calórica é que a combinação de compostos poderá sem mais eficaz que um único agente. Esta abordagem em 'coquetel' pode surgir no reconhecimento de duas questões chave. A primeira é que a regulação energética é uma componente chave na sobrevivência de um organismo e haverá provavelmente a ativação de mecanismos compensatórios em resposta a manipulação de um único alvo. Em segundo, os efeitos do envelhecimento e do anti-envelhecimento da restrição calórica envolvem múltiplas vias, portanto, as intervenções que fornecem proteção a múltiplos sistemas e tecidos devem ser inerentemente mais benéficas.

Sites de empresas de biotecnologias em busca de miméticos da restrição calórica

Biomarker Pharmaceuticals

Chromogen

Elixir pharmaceuticals

GeroNova Research

Irazu Biodiscovery

Juvenon

Phoenix Biomolecular

Sirtris Pharmaceuticals

Esta é uma lista de companhias envolvidas na busca de terapias anti-envelhecimento ou tratamento para doenças, principalmente as degenerativas. Não é o endosso a qualquer produto ou promessa que estas empresas alardeiem em seus sites.

Referências

Ingram DK et al. Calorie restriction mimetics: na emerging research field. Aging Cell. 2006; 5(2):97–108 [Abstract]

Nissen SE, Wolski K. Effect of rosiglitazone on the risk of myocardial infarction and death from cardiovascular causes. N Engl J Med. 2007; 356(24):2457–2471 [Abstract]

Home PD, Pocock SJ, Beck-Nielsen H, Gomis R, Hanefeld M, Jones NP, Komajda M, McMurray JJ; RECORD Study Group. Rosiglitazone evaluated for cardiovascular outcomes – an interim analysis. N Engl J Med. 2007; 357(1):28-38. [Abstract]

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Efeito do aconselhamento dietético para perda de peso

Após a busca em bancos de dados de artigos médicos foram selecionados 46 estudos para uma análise agrupada (metanálise). Os dados de 6386 pessoas recebendo aconselhamento dietético e 5467 pessoas recebendo cuidados usuais. O objetivo destes estudos era a perda de peso por limitar a ingesta de gorduras ou calorias, aumento na atividade física foi promovido em 42 estudos. O aconselhamento foi realizado em encontros de grupo (18 estudos), consultas individuais (13 estudos), combinação de aconselhamento em grupo e individual (11 estudos), Internet (3 estudos) e 2 estudos não informaram a forma de aconselhamento.

Os resultados dos estudos aleatórios (randomizados) comparando programas de emagrecimento com aconselhamento dietético com cuidado usual produziu um efeito final da perda de 6% do peso inicial em um ano. Apesar dos resultados modestos sabe-se que mesmo pequenas perdas de peso diminuem o risco cardiovascular e nas pessoas com intolerância a glicose evitam o surgimento de diabetes melito.

Importante também foi o achado que enquanto estiveram em fase ativa de aconselhamento os participantes continuaram a perder peso, mesmo que lentamente, ou mantiveram o peso perdido. Quando colocados em 'fase de manutenção' e apenas observados começaram a ganhar novamente o peso perdido.

Referência

Dansinger ML et al. Meta-analysis: the effect of dietary counseling for weight loss. Ann Intern Med 2007;147:41-50

Diminuição da sinalização da insulina aumenta a longevidade

A insulina controla a glicose no sangue e é um dos mais importantes controladores do metabolismo energético do organismo. A insulina e o Fator de Crescimento Insulina-Símile 1 (IGF-1) após ligarem a seus receptores na membrana celular geram uma cascata de fosforização de resíduos de tirosina no Substrato do Receptor de Insulina (IRS). Esta cascata de sinalição regula muitos processos celulares, inclusive a transcrição de genes.

A redução da sinalização da insulina-símile no verme C. elegans e na mosca-da-fruta (D. melanogaster) aumenta a longevidade. A longevidade também é aumentada pela restrição calórica que pode estar ligada à diminuição da sinalização da insulina, pois o jejum reduz a intensidade e a duração da sinalização da insulina.

Ratos com modificações na expressão dos genes do Substrato do Receptor de Insulina 2 (IRS2) com deleção de ambas as cópias (Irs2–/–) apresentaram redução do crescimento cerebral e diabetes fatal aos 3 meses. Entretanto ratos heterozigotos (Irs2+/–) jovens apresentaram metabolismo normal e ao envelhecer mostravam-se mais pesados e mais sensíveis à insulina comparados aos controles, além disso, consumiram a mesma quantidade de comida que os controles. Os ratos (Irs2+/–) mostraram uma longevidade maior que os controles em 17%.

Produzindo ratos com expressão do IRS-2 diminuída apenas nos neurônios do cérebro (bIrs2+/–) ou ausente (bIrs2–/–). Ao contrário dos ratos Irs2+/– ratos jovens bIrs2–/– e ratos velhos bIrs2+/– se mostraram resistentes à insulina mas não desenvolveram diabetes. Apesar de apresentarem alterações metabólicas associadas com redução da longevidade os ratos bIrs2+/– e bIrs2–/– viveram mais que os controles 18% e 14% respectivamente.

A análise da concentração da enzima Superóxido Desmutase (SOD) mostrou que nos ratos velhos bIrs2–/– e bIrs2+/– era 50% maior que nos controles sugerindo que nestes ratos há menos estresse oxidativo.

Estes resultados sugerem que a diminuição da sinalização em todos os tecidos (Irs2+/–) ou apenas no cérebro (bIrs2+/–) aumenta a duração da vida mantidos numa alimentação plena em calorias, mesmo que os ratos (bIrs2+/–) apresentaram resistência à insulina, hiperinsulinêmicos e intolerantes à glicose.

Quando os mamíferos envelhecem desenvolvem hiperinsulinemia para compensar a resistência à insulina, para manter a homeostase da glicose e impedir o aparecimento de diabetes melito tipo 2, contudo, o aumento da sinalização da insulina pode ter efeitos negativos no cérebro causando diminuição da longevidade. Consistente com esta hipótese exercício físico moderado diariamente, alimentação frugal e controle do peso – que causam redução da insulina circulante – aumentam a expectativa de vida e um dos mecanismos pode ser a redução da sinalização através do IRS-2 no cérebro.

Referência

Taguchi AT. Brain IRS2 Signaling coordinates life span and nutrient homeostasis. Science. 2007;317(5836) 369 – 372[ Abstract]

terça-feira, 3 de julho de 2007

Tratamento mais fácil para osteoporose

Em um estudo duplo cego, randomizado, mulheres com osteoporose após a menopausa receberam uma infusão de ácido zoledrônico (Zometa® – Novartis) ou de placebo em 3 doses anuais e foram acompanhadas por 3 anos.

O tratamento com ácido zoledrônico conseguiu reduzir significamente o risco de fraturas vertebrais (em 70%), fêmur (em 41%) e outras fraturas (em 25%). Os efeitos adversos foram semelhantes entre os dois grupos, exceto para fibrilação atrial grave que foi mais freqüente naquelas que receberam ácido zoledrônico.

Um dos problemas mais freqüentes no tratamento da osteoporose é a baixa aderência ao tratamento e os efeitos adversos sobre o esôfago e estômago. Os bifosfonados (grupo a que pertence o ácido zoledrônico) devem ser ingeridos em jejum com um copo cheio de água, manter o jejum por no mínimo uma hora e a postura ereta ou acentado. Em pacientes com grave problema de refluxo gastro-esofágico ou com alterações de motilidade do esôfago os bifosfonados são contra-indicados. A administração via venosa do ácido zoledrônico uma vez ao ano pode contornar facilmente esta dificuldade, principalmente nos pacientes com osteoporose e Doença de Chagas, freqüentes no Brasil.

A fibrilação atrial grave (1,3% no grupo do ácido zoledrônico contra 0,5% no placebo) ocorreu após 30 dias da infusão e não parece haver relação com a hipocalcemia, que foi precoce, leve e transitória após a infusão do medicamento.

Uma alternativa aos bifosfonados por via oral seria o ranelato de estrôncio (Protos® - Servier) mas também causa efeitos gastrointestinais, principalmente diarréia.

O preço do tratamento é caro para a maioria da população pois o custo anual do alendronato de sódio (Fosamax®) 70 mg por semana e do Zometa® é aproximadamente R$ 1500,00 com ambas as drogas.

Além destes medicamentos está disponível no Brasil o alendronato de sódio genérico, risedronato sódico (Actonel®, Sanofi-Aventis)o ácido ibandrônico (Bonviva®, Roche), teriparatida (Forteo®, Eli Lilly).

Referências:

Black DM et al. Once-yearly zoledronic acid for treatment of postmenopausal osteoporosis. N Engl J Med
2007; 356:(18)1809-1822

terça-feira, 12 de junho de 2007

A obesidade: perspectiva de um balanço energético.

  • Em essência, nossa biologia é equipada para proteger mais fortemente contra a perda de peso e que contra o ganho de peso.
  • Parece que após um período de obesidade estabelecida o corpo tem o nível em que o peso é regulado (set point) permanentemente alterado.
  • Indivíduos com altos níveis de gasto energético por muita atividade física são melhores em regular a ingesta e o gasto energético, portanto o peso, que aqueles com baixo nível de gasto energético por pouca atividade física.
  • Nossa biologia é intensamente voltada para promover a ingesta de energia e proteger contra a perda de peso. A razão por que nem toda a população está obesa provavelmente é porque algumas pessoas são capazes de se oporem a esses fatores ambientais com contínuo esforço de evitar alimentação excessiva e praticando atividade física regular.
  • Também devemos examinar o papel dos padrões comportamentais. A melhor indicação que as mudanças ambientais são significativas vem da avaliação da quantidade andada em um grupo de Amish que não adotam a maioria das mudanças tecnológicas ocorridas durante o século 20. Pesquisadores encontraram que homens amish dão 18.000 passos por dia e mulheres amish dão 14.000 passos por dia. Para se comparar, no Colorado um homem dá 6733 passos por dia e uma mulher 6384 passos por dia,
  • Os carboidrato produzem mais efeito térmico que a gordura, reduzir a gordura na dieta e aumentar os carboidratos deve também produzir um pequeno aumento no efeito térmico da comida. O excesso de energia proveniente da gordura é estocado com maior eficiência que do carboidrato.
  • Há pouco efeito em diminuir a gordura dietética durante um balanço energético negativo.
  • Alguns dos efeitos das dietas ricas em gordura sobre a ingesta é provavelmente relacionado a maior densidade calórica, contudo, altos níveis de gordura na dieta podem aumentar a ingesta
  • Mesmo pequenos aumentos na atividade física podem evitar ganho de peso, enquanto aumentos na muito grandes são necessários para se evitar ganhar novamente o peso perdido.
  • calórica independentemente da densidade energético.

Referência:
Hill JO. Understanding and Addressing the epidemic of obesity: an energy balance perspective. Endocrine Reveiws 2006;27(7):750-761

sábado, 9 de junho de 2007

Hipertireoidismo: tratamento com iodo radioativo é seguro

Mark Vanderpump em editorial do The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism de junho de 2007 afirma que:

"O hipertireoidismo é uma condição grave com aumento da mortalidade cardiovascular, particularmente no idoso. O iodo radioativo é um tratamento reconhecidamente seguro e eficaz.
O hipotireoidismo é um resultado aceitável e possivelmente um resultado até desejável em pacientes idosos com doença nodular.
A fibrilação atrial, que é frequentemente presente, pode nao ser reversível após a correção do estado de hipertireoidismo e necessita ser ativamente tratada conforme as diretrizes incluindo anti-coagulação.
Embora mais tenha se ganhado mais confiança em relação a ausência de ligação entre iodo radioativo e risco de câncer, os médicos devem estar cientes que há estudos observando um pequeno aumento no risco de câncer digestivo alto em homens idosos, mas que parecer ser um achado isolado e não foi confirmado em outros estudos de longo prazo."

Referências:

Vanderpump M. Cardiovascular and Cancer Mortality after Radioiodine Treatment of Hyperthyroidism. J. Clin. Endocrinol. Metab. 2007;92(6):2033-2035

quinta-feira, 31 de maio de 2007

Dieta de baixo carboidrato emagrece mais

Em um estudo realizado pelo Dr. Gardner na Universidade de Stanford comparando quatro tipos de dietas que variavam principalmente na quantidade de carboidratos de baixo a alto carboidrato (Atkins -> Zone -> LEARN -> Ornish) e relação inversa de gorduras.

Foram estudadas mulhres pré-menopausa com sobrepeso ou obesidade entre 25 a 50 anos. A que mais emagreceu após 12 meses foi a dieta Atkins (com baixo carboidrato ou low-carb).

Em média os seguidores da dieta Atkins estavam, após 12 meses, 4,7 kg mais magros que no início da dieta.

Além de emagrecer mais a dieta Atkins foi a que mais aumentou o colesterol HDL (bom colesterol) e abaixou os triglicérides, entrentanto pouco reduziu os níveis de colesterol LDL (mau colesterol).

Os níveis de glicemia em jejum e insulina foram iguais entre as dietas e
relacionou-se com a perda de peso.


Uma ressalva a ser feita é que apesar dos bons resultados na balança e nos fatores metabólicos no médio prazo as dietas de baixo carboidrato, como a Atkins, podem não ser tão saudáveis após o emagrecimento durante a fase de manutenção do peso.


Referências:

Gardner CD et al. Comparison of the Atkins, Zone, Ornish, and LEARN diets for change in weight an related risk factors among overweight premenopausal women. The A TO Z weight loss study: a randomized trial. JAMA; 2007(9):969-977

terça-feira, 22 de maio de 2007

Deita + Exercício = Menos Barriga? Talvez não.

O excesso de gordura acumulado na dentro barriga (dita visceral) é mais prejudicial à saúde que a gordura em excesso acumulada nos quadris e nos outros locais (dita subcutânea) .

Acredita-se que um programa de emagrecimento com dieta e atividade física faça perder mais gordura visceral que um programa com apenas dieta.

Leanne Redman e colaboradores do "Pennington CALERIE Team" (Pennington biomedical Research Center em Baton Rouge, Louisiana) realizaram um estudo clínico aleatório com pessoas com sobrepeso que infelizmente não comprovou esta idéia. A equipe de Redman encontrou que quando se emagrece perde-se a mesma quantidade de gordura corporal (tanto visceral quanto subcutânea) fazendo-se apenas dieta ou dieta e atividade física desde que o déficit calórico seja igual. Isto é, atividade física não ajuda a reduzir a barriguinha mais que dieta.
Pior ainda os dados também sugerem que a massa magra não é preservada com atividade física regular, pelo menos nos indivíduos com sobrepeso.

Esta aparente incapacidade da atividade física em alterar a proporção da distribuição da gordura sugere que a distribuição dos depósitos de gordura sejam programados geneticamente e ou epigeneticamente.

Entretanto a atividade física regular produz indiscutíveis benefícios à saúde além da mudança no peso, como melhora do perfil metabólico e na capacidade aeróbica, além de melhora no humor entre outros benefícios

Referência:

Redman LM et al. Effecti of calorie restriction with or without exercise on body composition and fat distribution. J Clin Endocrinol Metab. 2007;93(3):865-872

Causas (menos óbvias) da obesidade

Pela “Lei de conservação de energia” a gordura corporal (estoque de energia ou energia química) aumenta quando a ingesta é consistentemente maior que o gasto. O excesso de gordura corporal e obesidade são resultado de um balanço energético positivo prolongado.

Pequenas diferenças no consumo de alimentos ou no gasto de energia durante o dia acumulados ao longo de anos podem levar a grandes diferenças de peso e a obesidade.

O gasto energético pode ser divido em três componentes. A taxa metabólica basal é a energia gasta para manter as funções centrais do corpo e é medida em completo repouso durante o jejum, corresponde por aproximadamente 60% do gasto diário em uma pessoa sedentária. Quanto maior uma pessoa maior é o seu metabolismo basal. A termogênese alimentar é o gasto energético desencadeado pela alimentação e está associado com a digestão, absorção e estocagem, corresponde por 10% do gasto energético e não varia muito entre as pessoas. A termogênese por atividade pode ser subdividida em termogênese por atividade de exercício e termogênese por atividade de não-exercício.

A termogênese por atividade pode variar tanto quanto 2000 kcal ou mais entre pessoas de tamanho parecido. É a termogênese por atividade de exercício ou termogênese por atividade de não-exercício responsável por esta variação? Definindo-se exercício como “atividade física para conseguir ou manter condicionamento físico”, a grande maioria da população não pratica atividade física, e mesmo naqueles que a praticam o gasto diário é próximo a 100 kcal. Portanto a termogênese por atividade de não-exercício, que o gasto energético de todas as atividades físicas outras que a prática de esportes voluntária. É responsável pela maior parte da variação no gasto energético diário entre as pessoas. A termogênese por atividade de não-exercício pode ser classificada em gastos ocupacionais e gastos com lazer.

Para melhor entender as diferenças entre obesos e magros, ambos sedentários, mediu-se a termogênese por atividade de não-exercício. Os obesos permaneceram sentados 2½ horas a mais por dia que os magros. Os magros ficaram em pé e andaram 2 horas a mais por dia que os obesos. Se os obesos mudassem suas atividades poderiam queimar mais 350 kcal por dia! Alem disso alimentando-se voluntários magros com um excesso de 1000 kcal por dia as maiores mudanças no gasto energético foram na termogênese por atividade de não-exercício. Aqueles que aumentaram a termogênese por atividade de não-exercício ao máximo quase não ganharam gordura enquanto os que não a aumentaram ganharam mais gordura.

Estas informações demonstram que pode haver um problema com a termogênese por atividade de não-exercício em pessoas obesas sustentada por causas biológicas e ambientais profundas e sutis.

O cérebro é uma peça chave envolvida no controle do peso. O hipotálamo, uma região central do cérebro, recebe informações periféricas do trato digestório e do tecido adiposo realiza a integração destas informações para então controlar o apetite e o gasto energético às necessidades do corpo.

Os seres humanos possuem uma relação única com a comida, além da subsistência há relações intensas com comportamentos elaborados e mensagens sócio-culturais. Neste plano, que pertence à comida, ao comer e à imagem corporal, pode sobrepujar as forças desencadeadas por necessidades metabólicas ou palatabilidade. As pessoas compartilham a comida para construir um senso de comunidade, evitam certos alimentos por questões religiosas e julgam o que é apropriado comer de acordo com futuras previsões e normas culturais (por exemplo, os efeitos a longo prazo sobre o coração ou sobre o peso). Esta dimensão cognitiva, essencialmente humana, de escolhas sobre a alimentação pode exercer um papel crítico na obesidade que não é enfatizado adequadamente.

Vários dados sugerem um papel fundamental no papel do córtex pré-frontal (CPF) na obesidade. Lesões no CPF, como na lobotomia, procedimento psicocirúrgico comum no começo do século que disconecta o lobo frontal do resto do cérebro, causam ganho de peso e alimentação em excesso. Lesão no CPF direito causa uma paixão por comer e por comida refinada chamada de síndrome do glutão. Nos pacientes com demência degenerativa atrofia do CPF direito relaciona-se positivamente com grau de hiporexia. Ao contrário hiperatividade do CPF direito, visto em pacientes com epilepsia no lobo frontal direito, pode causar anorexia que cessa quando as medicações anti-epilepsia são iniciadas.

Dados adicionais ligam o CPF direito e atividade física espontânea. Aumento da ativação do CPF facilita a atividade e pode causar manifestações motoras proeminentes, como durante convulsões epilépticas que surgem desta área. De modo oposto, diminuição da função do CPF pode diminuir a atividade física por seus efeitos sobre as áreas motoras, bem como o ímpeto de se mover causando sedentarismo, apatia e fadiga central. De modo recíproco a atividade física pode modificar o funcionamento do CPF, prática de exercícios físicos melhora o desempenho em tarefas cognitivas relacionadas ao CPF e aumenta o volume do CPF direito. Em concordância com isso, quando comparados com controles sem treino atletas profissionais mostram uma acentuada preferência do hemisfério direito nas tarefas motoras e cognitivas que medem a preferência hemisférica. Um padrão oposto foi encontrado em obesos e o grau de excesso de peso correlacionou positivamente com o grau de preferência pelo hemisfério esquerdo.

O CPF direito está envolvido preferencialmente em guiar decisões segundo a conduta social e em um alto nível de integração de informações. Alterações no funcionamento do CPF direito causam desabilidades na capacidade tomar decisões com impacto no longo prazo. Há evidências que pessoas muito obesas apresentam deficiências na capacidade de tomada de decisões. Estes déficits podem contribuir para a incapacidade dos obesos em aderir a intervenções de perda de peso a longo prazo e pode ajudar a explicar a refratariedade usual aos tratamentos clínicos. O CPF direito está também emergindo como uma área crítica na inteligência moral.

O CPF é também um importante nó dos circuitos neurais que medeiam o auto-reconhecimento. A obesidade pode estar associada com um menor nível de auto-percepção. Pessoas obesas tendem a subestimar o seu próprio peso e a ingesta alimentar e a superestimar o nível de atividade física quando comparado com controles magros. Além disso, quanto mais gorda menor a capacidade de perceber adequadamente vários sinais corporais, como por exemplo, o batimento cardíaco. Esta sensibilidade exacerbada pode ajudar a explicar o aumento na prevalência de queixas psicossomáticas entre os obesos.

A alimentação humana pode ser concebida em um modelo com dois modos. Em um a “alimentação reflexa” representa os impulsos automáticos em alimentar em excesso preparando para períodos de escassez. Este modo mais primitivo é modulado pelo “modo reflexivo” que integra uma dimensão cognitiva, expectativas sociais sobre o próprio corpo, atos coletivos adequados e objetivos de saúde a longo prazo. Neste cenário uma diminuição na atividade do CPF pode ser uma causa subjacente para a mudança no modo reflexivo de alimentar que pode levar a obesidade na atual sociedade industrializada com ampla oferta de alimentos.

Estas hipóteses sobre o padrão de atividade e a capacidade do CPF, principalmente, o direito em motivar atividade física e a escolher os alimentos servem para integrar e fomentar pesquisas entre neurocientistas e pesquisadores do metabolismo energético esclarecendo o aumento na prevalência da obesidade atualmente. Também explica algumas das maiores dificuldades em se conseguir manter o peso sem voltar engordar novamente.

Referências:

Alonso-Alonso M, Pascual-Leone A. The Right Brain Hypothesis for Obesity. JAMA. 2006;297(17):1819-1822

Levine JA. The “NEAT defect” in human obesity: the role of nonexercise activity thermogenesis. Endocrinology Update (Mayo Clinic). 2007; 2(1):1-2

Moll J, Zahn R, de Oliveira-Souza R, Krueger F, Grafman, J. Opinion: the neural basis of human moral cognition. Nat Rev Neurosci, 2005;26(10): 799-809

Le DSNTL, Pannacciulli N, Chen K, Del Parigi A, Salbe AD, Reiman EM, Krakoff J. Less activation of the left dorsolateral prefrontal cortex in response to a meal: a feature of obesity. Am J Clin Nutr. 2006;84(4): 725-731