O câncer de mama cresce em incidência desde os meados do século XX e agora já é o segundo mais comum câncer entre as mulheres norte-americanas. Passou de 1 caso em 22 mulheres em meados de 1950 para 1 caso em 8 há 5 anos e agora está em 1 caso em 7. Houve um aumento no risco de mais de 3 vezes em apenas uma geração, em tão pouco tempo não houve mudanças genéticas na população para explicar este aumento, portanto uma boa hipótese é que o ambiente esteja causando esta alteração e como ambiente pensa-se em dieta, estilo de vida e exposição à químicos.
Entre das substâncias recentemente introduzidas pelo homem no ambiente uma das mais suspeitas de contribuir para o aumento no câncer de mama são os estrógenos ambientais ou xenoestrôgenos, porque sua introdução precede a elevação da incidência de câncer.
A primeira pista que a exposição pré-natal à estrógenos causava câncer veio das mulheres expostas durante a vida fetal ao dietilestilbestrol (DES) usado nos Estados Unidos, Europa e Austrália como anti-abortivo até que se descobriu que seu uso levava a adenocarcinoma de células claras de vagina e outras anormalidades. Estas mulheres estão chegando agora a idade mais comum de câncer de mama e aparentemente apresentam um risco maior de câncer (mas ainda não existem dados conclusivos). Outros estudos parecem ligar um maior risco de câncer de mama às mulheres expostas intra-útero a níveis, mesmo que pouco, elevados de estrógenos.
Em busca de tais efeitos a Drª. Ana Soto e o Dr. Carlos Sonnenschein expuseram camundongos e ratos intra-útero ao composto estrogênico bisfenol A (biphenol A, BPA). O BPA é amplamente usado para produzir plásticos policarbonados e resinas epóxi, está presente em uma miríade de produtos, incluindo o interior de latas de conservas recobertas, garrafas de água, vasilhas de comida, potes de papinhas de bebê, garrafões de água, materiais dentais, barris de vinho, lentes ópticas, coberturas protetoras, adesivos, esmalte protetor de janelas, CD e DVDs e papel térmico. BPA induziu o desenvolvimento de hiperplasia ductal nas quatro doses testadas e carcinoma in situ nas duas dosagens mais altas. As glândulas mamárias se desenvolvem de modo alterado em animais expostos a estes compostos durante a vida fetal e as alterações podem ser notadas desde o feto até a vida adulta.
A Drª. Soto nota que o BPA não é um mutagênico, portanto seu papel em causar câncer não pode ser explicado pela teoria convencional de mutação somática, que diz o câncer surgir do acúmulo de mutações no DNA de células individuais que então se dividem indefinidamente. Neste caso o câncer parece surgir quando há alteração no desenvolvimento do tecido mamário pelo excesso de estrógeno, para haver formação da mama deve haver um diálogo entre as células ductais e as células estromais. O câncer é uma alteração deste diálogo, é um problema de má compreensão entre diferentes tipos de células.
Pode-se discordar da interpretação de como caracterizar o câncer, mas é difícil negar os efeitos da exposição pré-natal a químicos como o BPA. Mesmo quantidades insignificantes parecem ter impacto e o BPA é apenas um dos muitos xenoestrógenos e outros análogos de hormônios. Além das suas propriedades estrogênicas o BPA é também antagonista dos hormônios da tireóide.
Referências:
Coleman W et al. Regulation of the differentiation of diploid and aneuploid rat liver epithelial (stem-like) cells bi the liver microenviroment. Am J Pahol. 1997;142:1373–1382
McCullough K et. al. Plasticity of the neoplastic phenotype in vivo is regulated by epigenetic factors. Proc Natl Acad Sci U S A, 1998;95:15333–15338.
McCullough AR et al. Age-dependent induction of hepatic tumor regression by the tissue microenvironment after transplantation of neoplastically transformed rat liver epithelial cells into the liver. Cancer Res, 1997;57:1807–1873.
• Maffini MV et al. Stromal regulation of neoplastic development: Age-dependent normalization of neoplastic mammary cells by mammary stroma. Am J Pathol, 2005;67:1405–1410.
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