domingo, 3 de fevereiro de 2008

Violência e má nutrição

Um copiar e colar da Folha de São Paulo, domingo, 3 de fevereiro de 2008

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Nutrição da violência

A comida de má qualidade torna as pessoas mais agressivas? Um estudo em prisões britânicas vai investigar essa questão

JEREMY LAURANCE
DO "INDEPENDENT"

Alguns dos presidiários jovens britânicos mais problemáticos receberão doses diárias de suplementos alimentares com a intenção de que seu comportamento agressivo diminua.
Cientistas da Universidade de Oxford afirmam que o efeito da nutrição sobre a conduta tem sido subestimado. Eles afirmam que o aumento no consumo de comida mal balanceada ("junk food") é em parte responsável pelo aumento dos índices de violência nos últimos 50 anos.
A universidade vai liderar um estudo com custo estimado de US$ 2,7 milhões no qual mil homens com idades entre 16 e 21 anos de três instituições para jovens infratores na Inglaterra e na Escócia serão escolhidos aleatoriamente para receber suplementos de vitaminas e minerais ou placebos, acompanhados durante um período de 12 meses.
Em um estudo piloto com 231 prisioneiros feito pelos mesmos pesquisadores, publicado em 2002, incidentes violentos durante o período de custódia caíram em mais de um terço entre aqueles que receberam os suplementos.
"Se for possível uma projeção a partir desses resultados, talvez vejamos uma redução de um terço a um quarto em uma prisão", diz John Stein, professor de fisiologia da Universidade de Oxford. "Seria possível reduzir os ataques violentos em uma comunidade em um terço. Isso traria um enorme benefício econômico."
O cientista acrescenta: "Nossas descobertas iniciais indicaram que melhorar o que as pessoas podem comer as leva a se comportar de modo mais sociável e também melhora sua saúde. Isso não é algo levado em conta atualmente nos planejamento nutricional de dietas. Não estamos dizendo que a nutrição é a única influência sobre o comportamento, mas aparentemente nós estávamos subestimando bastante a sua importância."
Mark Walport, chefe do Wellcome Trust, que está financiando o estudo de três anos, diz: "Se esse estudo mostrar que os suplementos nutricionais afetam o comportamento, isso pode ter uma importância profunda para diretrizes nutricionais, não apenas no sistema judiciário criminal mas na comunidade mais ampla e em escolas, por exemplo. Temos o costume de pensar em diretrizes de dieta para nossa saúde física, mas esse estudo pode levar a repensá-las, considerando nossa saúde mental".
A teoria por trás do teste é que quando o cérebro está carente de alguns nutrientes essenciais -especialmente os ácidos graxos da classe ômega 3, que são um "tijolo" molecular fundamental para a construção de neurônios- ele perde a "flexibilidade". Isso debela a capacidade de atenção e prejudica o autocontrole. Mesmo quando a comida de cadeia é nutritiva, prisioneiros tendem a fazer escolhas pouco saudáveis e precisam de suplementos, dizem os pesquisadores.
Bernard Gesch, pesquisador sênior no departamento de fisiologia e diretor da Natural Justice, entidade filantrópica que investiga as causas de agressões, afirma que os prisioneiros deveriam receber suplementos contendo 100% da dose diária recomendada de mais de 30 vitaminas e minerais, mais três cápsulas de óleo de peixe, totalizando 2,25 gramas acima de sua dieta normal.
"Estamos tentando reabilitar o cérebro para a justiça criminal", diz. "A lei assume que o crime é um ato de livre arbítrio. Mas você não pode exercer o livre arbítrio sem usar seu cérebro, e o cérebro não pode funcionar adequadamente sem um suprimento de nutrientes adequado."
"Essa é uma abordagem positiva para prevenir problemas de comportamento anti-social e criminal. É simples, parece ser altamente efetiva e o único "risco" de uma dieta melhor é uma saúde melhor. É uma rara situação de ganho de mão dupla na justiça criminal."
O Ministério da Justiça britânico está apoiando o estudo de três anos, que vai começar em maio. David Hanson, ministro do sistema penal, diz que espera que ele possa ajudar a esclarecer melhor a ligação entre nutrição e comportamento.
A Agência de Padronização de Alimentos do Reino Unido, de qualquer forma, afirma que não há evidência suficiente mostrando danos causados por suplementos de vitaminas, minerais ou óleo de peixe.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu gostaria que matérias como esta estivessem disponíveis para não assinantes da UOL, tive que resumir esta matéria para colocá-la em meu blog.

http://celulosica.blogspot.com/

Até