segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Administração correta de insulina com seringas

A correta utilização de insulina requer técnicas e materiais adequados para o efetivo preparo e administração. Geralmente os frascos de insulina devem ser guardados refrigerados entre 2°C a 8°C. O melhor local pra guardar a insulina é longe do congelador ou das placas de resfriamento, a porta da geladeira não é adequada pois a temperatura varia muito com a abertura da porta. A insulina quando aplicada gelada pode causar irritação, para minimizar pode-se manter em temperatura ambiente (até 30°C) o frasco de insulina em uso por até 30 dias, devendo-se descartar após este prazo. Agitação excessiva, temperaturas menores de 2°C ou superiores a 30°C causam perda de potência. Durante viagens a insulina não dever ser transportada em recipientes com gelo, sim mantida a temperatura ambiente e protegidas de extremo de temperaturas e luz solar para depois retornar à geladeira.

As seringas devem ser próprias para insulina. As que possuem agulha removível podem apresentar espaço morto na ponta (gargalo) de até 5U que não é computada pela escala numérica, são adequadas para uso de insulina de um único tipo ou pré-mistura mas quando usadas para se misturar dois tipos de insulina (por exemplo regular e NPH) a presença do espaço morto pode fazer com que a mistura contenha mais da insulina colocada primeiro. Para se misturar dois tipos de insulina na seringa devem-se usar seringas com agulha acoplada ou as sem espaço morto (êmbolo com pistão).

O comprimento da agulha deve ser de acordo com a massa corpórea do paciente. Pacientes com IMC ≤25 agulhas até 8 mm são adequadas, para pacientes com IMC >25 agulhas de 12,7 ou 13 mm.

A introdução de ar nos frascos para o preparo da dose é imprescindível. A formação de vácuo dificulta a retirada da dose adequada, impede o total aproveitamento da insulina contida no frasco e no caso de misturas, provoca a aspiração da insulina rápida ou ultra-rapida já contida na seringa para dentro do frasco de NPH ou ultra-lenta.

A técnica correta de se misturar insulina rápida ou ultra-rápida com insulina NPH é primeiro injetar ar nos frascos na quantidade da dose a ser aspirada. Depois de injetado o ar aspira-se sempre primeiro a insulina rápida ou ultra-rapida e então aspira-se a NPH. A mistura de insulina regular e NPH pode ser armazenada na seringa por até 30 dias sob refrigeração. A mistura de ultra-rápida (lispro e aspart) deve ser administrada imediatamente após o preparo. A insulina gargina não deve ser misturada com qualquer outra insulina por causa do baixo pH de seu diluente.

As injeções de insulina devem ser feitas no tecido subcutâneo situado abaixo da derme, constituído de tecido aureolar frouxo com células gordurosas de volume variável. A prega cutânea deve sempre ser feita antes da introdução da agulha e desfeita antes da injeção da insulina ou até a retirada da agulha. A prega é dispensável apenas quando se usa agulhas de 5mm de comprimento. O ângulo é de 90° com a agulha adequada, em crianças ou pessoas muito magras pode-se introduzir com ângulo de 45°. A aspiração para verificar se há retorno de sangue não é necessário quando se usa agulhas e a técnica corretas. O rodízio do local de aplicação é fundamental para evitar alterações lipodistróficas.

A reutilização de seringas e agulhas é tema controverso não sendo recomendado pelos fabricantes nem pela ANVISA, mas tal prática é muito comum. Há conservantes nos frascos de insulina que inibem o crescimento bacteriano minimizando o risco de contaminação. Para se reaproveitar seringas e agulhas é preciso cuidado de se utilizar técnica asséptica e trocar sempre a seringa quando começar a apresentar perda da graduação e a agulha quando estiver romba.

domingo, 19 de agosto de 2007

Sabonete comum é até melhor que sabonete anti-séptico

Sabonetes anti-sépticos para uso domiciliar não são melhores que os sabonetes comuns para a saúde e podem até interferir na eficácia de alguns antibióticos.

Segundo estudo publicado por Allison E. Aiello, Elaine L. Larson e Stuart B. Levy os sabonetes anti-sépticos para uso domiciliar contendo triclosan em concentrações variando de 0,1% – 0,45% não são mais eficazes que sabonete comum em prevenir doenças infecciosas nem reduzir os níveis de bactérias das mãos. Além disso estudos em laboratório (in vitro) demonstraram resistência cruzada entre bactérias adaptadas ao triclosan e à antibióticos.

A equipe não pesquisou outros anti-sépticos também em uso em produtos para o lar como cloro ou álcool. Mas não parece haver suspeitas sobre eles.

Referência:

Aiello, A. E. et al. Consumer Antibacterial Soaps: Effective or Just Risky? Clinical Infectious Diseases.
2007; 45(2 Supp):S137-S147 [Abstract]

Science Blog : Plain soap as effective as antibacterial but without the risk

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Solução de Lugol Reduz Sangramento na Cirurgia da Tireóide na Doença de Graves

Em publicação liderada por Serdar Tezelman da Universidade de Istambul, Turquia, demonstrou com análise por ultra-som com Doppler e por imuno-histoquímica que a administração de solução de Lugol (Solução em água de iodeto de potássio e iodo) no pré-operatório iniciada 10 dias antes da cirurgia diminuiu o sangramento intra-operatório, o fluxo de sangue medido pelo Doppler e a densidade de vasos sanguíneos da tireóide.

Este foi um dos primeiros, se não o primeiro estudo a usar imuno-histoquímica para avaliar o efeito da solução de Lugol sobre a tireóide na doença de Graves.

Referência:

Erbil Y et al. Effect of Lugol solution on thyroid gland blood flow and microvessel density in the patients with Graves' disease. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(6):2182–2189 [Abstract]

domingo, 12 de agosto de 2007

Patofisiologia da Fibromialgia

Micha Abeles e colaboradores em revisão sobre a patofisiologia da fibromialgia concluem que há uma crescente quantidade de evidências sugerindo que a fibromialgia resulte de um processamento central anormal da dor ao contrário de uma disfunção nos tecidos periféricos onde a dor seja percebida.

O que parece claro é que o pacientes com fibromialgia experimentam a sensação dolorosa de modo diferente que as pessoas normais, sentindo dor mesmo na ausência de injuria ou lesão.

Referência:

Abeles AM et al. Narrative review: the pathophysiology of fibromyalgia. Ann Intern Med, 2007;146(10):726-734

O que há de tão especial na dieta mediterrânea?

A começar pelo nome "Dieta Mediterrânea" que está errado, pois em volta do Mediterrâneo existem vários países com populações, culturas, religiões e estado econômico diferentes, portanto existem dietas mediterrâneas na verdade.

O "The Seven Country Study" encontrou diferenças na prevalência de doenças cardiovasculres de 5 – 10 vezes entre os países, com menor prevalência na ilha grega de Creta que teve uma mortalidade por doença cardíaca e por câncer três vezes menor que nos Estados Unidos.

A dieta tradiconal grega antes de 1960 é atualmente representada pela dieta tradiconal de Creta, que se assemelha a dieta provavelmente consumida pelos homens na era paleolítica com agricultura incipiente quanto à fibra, antioxidante, gordura saturada, gordura monoinsaturada e a proporção entre ácidos graxos n-3 e n-6. As dietas ocidentais atuais se desviaram da dieta paleolítica e estão associadas altas taxas de morte por doença cardiovascular, diabetes, obesidade e câncer.

A dieta de Creta é bastante rica em gorduras (~37% das calorias) mas a proporção de gorduras n-6:n-3 é 1–2 enquanto nos Estados Unidos e Ocidente desenvolvido é 15–16. É também abundante em antioxidantes. Mesmo os ovos ou a carne comida pelos cretenses possuem uma maior quantidade de ácidos graxos n-3 que equivalentes ocidentais que além de pouco ou nenhum n-3 têm os alimentos enriquecidos com ácidos graxos trans artificiais.

Em resumo o que parece haver de tão especial na dieta Grega, especialmente a de Creta pré-1960 é o alto teor de nutrientes funcionais, especialmente os seguintes:

  1. Uma ingesta mais balanceada de ácidos graxos essenciais derivados de vegetais, animais e animais marinhos com uma proporção n-6:n-3 de aproximadamente 2:1 contra 15:1 das dietas ocidentais;
  2. Uma dieta rica em antioxidantes (rica em vitamina C, vitamina E, β-caroteno, glutationa, resveratrol, selênio, pitoestrogenos, folato e outros fitoquímicos, compostos fenólicos derivados do vinho e óleo de oliva), alta ingesta de tomates, cebola, alho e especiarias (orégano, hortelã, alecrim, salsinha e endro (Anethum graveolens) ricos em fitoquímicos benéficos.

Os 7 mandamentos da Dieta Ômega (por Simopoulos e Robinson):

  1. Coma comidas ricas em ácidos graxos ω-3 tais como peixes de água gelada (salmão, truta, atum, arenque, cavala), castanhas, óleo de canola, linhaça e vegetais folhosos verdes. Ou se preferir tome suplementos de ω-3.
  2. Use óleos monoinsaturados como o azeite e óleo de canola como principal gordura.
  3. Coma sete ou mais porções de vegetais ou frutas diariamente.
  4. Coma mais proteína vegetal, incluindo ervilha, feijão e nozes.
  5. Evite gordura saturada comendo carnes magras e leite e laticínios desnatados ou com teor reduzido de gordura.
  6. Evite óleos ricos em ω-6 incluindo óleo de milho, cártamo, girassol, óleo de soja e algodão.
  7. Coma o mínimo possível de gorduras trans por evitar margarinas e gordura vegetal (gorduras hidrogenadas que não sejam livres de gordura trans), biscoitos e doces industrializados, frituras e a maioria dos lanches, misturas pré-fabricadas e comida preparada industrializada.

Referências:

Simopoulos AP. The mediterranean diets: what is so special about the diet of greece? The scientific evidence. J Nutr.
2001; 131(11 Suppl):3065S-3073S

Ghrelina inibe a sede com muita potência

Estudo japonês liderado por Yoichi Ueta encontrou que a inibição da ingesta de água em ratos após a privação de água por 24 h foi superior a exibida pelo Peptídeo Natriurético Atrial (ANP), até então o mais potente inibidor da ingestão de água conhecido. A Grelina inibiu a ingesta de água na proporção que aumentou a ingesta de comida, o ANP não apresenta efeito sobre a ingesta de comida.

Os pesquisadores dizem que ainda é preciso esclarecer o mecanismo central de ação da Grelina na redução da ingesta de água e a relação com o aumento da ingesta de comida.

Referência:

Hirofumi H, Hiroaki F, Makoto K, et al. Centrally and Peripherally Administered Ghrelin Potently Inhibits Water Intake in Rats. Endocrinology. 2007;148(4):1638–1647

sábado, 4 de agosto de 2007

Obesidade em adolescentes e sibutramina

Em estudo holandês adolescentes com obesidade foram tratados com sibutramina 10 mg ou com placebo, tiveram medidos a composição corporal e o gasto energético (taxa metabólica basal).

O estudo foi desenhado para avaliar o efeito da sibutramina combinada com um programa dietético de restrição calórica e de fomento à atividade física sobre a composição corporal e o gasto energético em adolescentes obesos.

Foram estudados 12 adolescentes em cada grupo que apresentavam um excesso de peso considerado obesidade pelo IMC acima do percentil 97 ou com uma dobra cutânea triceptal maior que o percentil 97, a fase de intervenção ativa (medicação ou placebo) durou 12 semanas mais um período de observação de também 12 semanas.

Ambos os grupos diminuíram de modo semelhante o IMC durante a fase ativa, mas o grupo da sibutramina parou de emagrecer durante a fase de observação enquanto o grupo placebo continuou a perder peso. Pode ter contribuído para a não superioridade da sibutramina o grande enfoque na restrição dietética e na atividade física e o pequeno número de participantes com grande amplitude do IMC.

Durante este estudo que mediu com técnicas bastante precisas a composição corporal e a taxa metabólica basal o grupo da sibutramina manteve, mesmo durante a restrição calórica e perda de peso, a taxa metabólica basal constante ao contrário do grupo placebo.

Em conclusão o efeito da sibutramina no IMC não foi significativo.

Referência

Van Mil, EGA et al. J Clin Endocrinol Metab. 2007;92(4):1409–1414 [Abstract]

Outros estudos inclusive com resultados positivos [Busca PubMed]