quinta-feira, 25 de março de 2010

Farmácias terão que reter receitas de antibióticos

Farmácias terão que reter receitas de antibióticos

Restrição à venda desses remédios será discutida em consulta pública da Anvisa

Hoje, o paciente pode ir embora com a receita; a previsão é que as novas regras entrem em vigor em setembro deste ano

Ainda neste ano, a compra de antibióticos só poderá ser feita mediante a apresentação de uma receita que será retida na farmácia ou drogaria.
Os termos e a forma de implantação dessa proposta serão submetidos a uma consulta pública pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no máximo em um mês, e a previsão é que ela entre em vigor em setembro.
Atualmente, a regra determina apenas que o paciente apresente a receita, mas ele pode ir embora do estabelecimento com ela. Mesmo essa exigência, porém, costuma ser descumprida, e o medicamento é vendido sem prescrição, como reconhece a própria Anvisa.
Esse foi um dos motivos que levaram o órgão a propor regras mais rígidas para a comercialização de antibióticos. O outro é evitar a automedicação e o uso incorreto, que podem tornar as bactérias resistentes aos medicamentos e dificultar o tratamento de algumas doenças e infecções.
"Sou totalmente a favor do controle. O Brasil tem um perfil bem peculiar de resistência a algumas bactérias, como alguns pneumococos e estafilococos, que não existe em nenhum outro lugar do mundo", diz Artur Timerman, infectologista da comissão de infecção hospitalar do Hospital Professor Edmundo Vasconcelos e do Hospital Dante Pazzanese.
De acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apresentados ontem, mais de 50% dos pacientes tomam antibiótico apenas por um dia, o que indica uma baixa adesão ao tratamento. Isso pode tornar a bactéria mais resistente a esse tipo de medicamento. Outro problema é o uso de antibióticos para o combate a infecções virais.
"Os antibióticos são necessários para matar micro-organismos como as bactérias, mas têm vários efeitos colaterais indesejáveis. Além disso, em determinadas condições, seu uso pode estimular o desenvolvimento de bactérias mais resistentes. A nova regra é muito adequada, pois vai dificultar o uso indevido dos medicamentos e esses riscos associados", acredita Marcos Boulos, professor de moléstias infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da USP.

Restrição maior
A Anvisa também colocará os quatro tipos de antibiótico mais vendidos sob um controle ainda mais rigoroso.
São eles a azitromicina, o sulfametoxazol, a amoxicilina e a cefalexina, usados em mais de 1.500 medicamentos.
Farmácias e drogarias serão obrigadas a registrar os dados relativos a cada venda, como a quantidade e o nome do médico que fez a prescrição, como já acontece, por exemplo, com emagrecedores.
Presentes ontem em uma audiência pública sobre a proposta, integrantes do Conselho Federal de Medicina e da Sociedade Brasileira de Infectologia disseram aprovar as mudanças.
O representante da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias), Sérgio Barreto, afirmou que a sua entidade também está de acordo, mas criticou o SUS (Sistema Único de Saúde) por não disponibilizar todos os medicamentos de que a população precisa.
O presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, respondeu dizendo que isso não retira dos estabelecimentos a obrigação de obedecer à legislação sobre a prescrição dos medicamentos. "A gente está discutindo essa regra porque ela é descumprida todos os dias."


Fonte:

Folha de São Paulo 25 de março de 2010 (somente para assinantes da Folha ou do UOL)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Mães nem sempre reconhecem quando suas crianças estão acima do peso

Coma menos, filho

O olhar das mães é poderoso. Descobre segredos, descortina o futuro, fortalece, afugenta fantasmas. Nem sempre, porém, identifica quando os filhos estão um pouco acima do peso. Em um estudo feito em Vitória, capital do Espírito Santo, com 1.282 crianças de 7 a 10 anos, apenas 10% das respectivas mães reconheceram que os filhos com sobrepeso ou obesidade estavam realmente pesando acima do normal para a altura e a idade.

Em outro estudo, essa equipe da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) verificou que 14% desse mesmo grupo de crianças apresentava pressão arterial acima do normal. “São dados preocupantes”, comenta Maria del Carmen Molina, professora da Ufes e coordenadora desses estudos. “Excesso de peso e hipertensão são dois fatores de risco para doenças cardiovasculares, a principal causa de morte na população brasileira.” Os pesquisadores esperavam que 20% das crianças estivessem com peso acima do recomendado (encontraram 23,3% com sobrepeso ou obesidade) e no máximo 10% com pressão arterial elevada.

Para avaliar esse risco futuro de enfarte ou de acidente vascular cerebral, os pesquisadores da Ufes não mediram apenas o peso, a altura e a pressão arterial de crianças de 7 a 10 anos de 29 escolas públicas e seis particulares de Vitória. Também avaliaram a alimentação, perguntando com que frequência consumiam frutas, sucos, legumes, leite, feijão, doces, salgadinhos, refrigerante, batata e maionese, e se tinham o hábito de fazer a primeira refeição do dia, o café da manhã. O que viram é que a garotada não está se alimentando tão bem quando as mães imaginavam. Viram também que o lazer, principalmente o sedentário, é intenso, com pelo menos três horas em frente à televisão ou no video­game, raramente saindo para brincar de pega-pega, jogar bola ou andar de bicicleta.

Examinando essas quatro variáveis (excesso de peso, hipertensão, alimentação de baixa qualidade e quatro horas ou mais de lazer sedentário diário), os pesquisadores verificaram que 20% das crianças apresentavam três fatores de risco para doenças cardiovasculares, 34% tinham dois fatores, 27% apenas um fator de risco e 12% não apresentavam nenhum fator de risco, de acordo com o trabalho da equipe da Ufes, em conjunto com a Universidade Autônoma de Madri, em fase de publicação.

O estado de saúde dos filhos pode refletir o das mães. Em um levantamento com 14.914 crianças brasileiras com menos de 10 anos publicado em 1996 na Revista de Saúde Pública, Elyne Engstrom, da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, e Luiz Anjos, da Escola Nacional de Saúde Pública,verificaram que crianças com sobrepeso tinham mães também com sobrepeso. Um estudo com 800 pais e mães de 439 estudantes realizado na Holanda chegou a resultados similares: 75% das mães e 77% dos pais de crianças com sobrepeso disseram que o filho ou filho estava com peso normal. Nessa pesquisa, publicada em janeiro na revista Acta Paediatrica, emergiu também uma relação direta entre o sobrepeso dos pais e o dos filhos.

Bebês prematuros - Agora o estudo em Vitória revela uma associação entre a escolaridade das mães e o risco de doença cardiovascular dos filhos: quanto mais anos de estudo das mães, melhor tende a ser a alimentação e portanto o peso, mais normal a pressão arterial e mais diversificada as atividades físicas dos filhos. “Verificamos também que a hipertensão é mais comum em crianças prematuras, que nascem antes de 37 semanas”, disse Maria del Carmen. “O desenvolvimento de doenças crônicas poderia ser uma das sequelas de nascer antes do tempo normal e com peso entre 700 gramas e 1 quilograma (kg), em vez de no mínimo 2,5 kg.”

Os resultados desses estudos não circularam apenas por meio de revistas científicas especializadas. “Mandamos carta para cada família informando que a criança tinha apresentado pressão arterial elevada e sugerimos que procurassem um posto de saúde ou um médico para confirmar o diagnóstico”, informou Maria del Carmen. “Comunicamos também à Secretaria de Saúde, cujos diretores e técnicos começaram a perceber que a hipertensão, antes considerada doença de adulto, pode ser também um problema de crianças. A primeira providência foi comprar medidores de pressão adequados para crianças e enviar aos postos de saúde.”

A responsabilidade por essa situação não é só da família – ou das mães. “Nas escolas que atendem a população de renda mais baixa”, observou Maria del Carmen, “mesmo com cardápio padronizado, as merendeiras colocam muito mais comida do que deveriam para as crianças, porque acham que precisam. Mesmo com cardápio padronizado, o valor calórico das refeições oferecidas às crianças às vezes era o dobro do que deveria ser”.

Referência:
MOLINA, M.C. et al. Correspondência entre o estado nutricional de crianças e a percepção materna: um estudo populacional. Cadernos de Saúde Pública. 25(10):2.285-90. Out. 2009.
Fonte:
Revista Pesquisa Fapesp

quarta-feira, 17 de março de 2010

OMS constata que atual geração pode ter expectativa de vida menor

Em Genebra

A atual geração de crianças "poderia ser a primeira em muitíssimo tempo a ter uma expectativa de vida menos elevada que a de seus pais", advertiu hoje a diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan.

Na abertura da primeira reunião dos participantes da rede mundial contra as doenças não-transmissíveis, Chan lembrou que essas doenças se concentram cada vez mais em pessoas jovens e inclusive em crianças que podem sofrer de hipertensão e alguns tipos de câncer.

A responsável da OMS acrescenta que nada menos que 43 milhões de crianças em idade pré-escolar sofrem de obesidade ou sobrepeso, uma condição que gera riscos para a saúde ao longo de toda a vida e despesas médicas potencialmente elevadas.

Em seu discurso perante representantes de Governos, centros de pesquisa, entidades filantrópicas e empresas que participam da reunião, a diretora da OMS ressaltou que as doenças não-contagiosas foram consideradas próprias típicas de países ricos, o que não se aplica mais na atualidade.

Ela disse que esses males estão agora "fortemente concentrados" nos países de renda média e baixa e nos grupos mais pobres dentro deles.

Segundo os dados da OMS, seis em cada dez mortes que ocorrem por dia no mundo se devem a doenças não-contagiosas, das quais é possível se prevenir e para algumas das quais existem tratamentos.

Os especialistas asseguram que uma quarta parte das mortes atribuídas a essas doenças poderiam ser evitadas com medidas de prevenção adequadas.

No total, 35 milhões de pessoas morrem por ano por causa dessas doenças, entre elas: problemas de coração, derrames cerebrais, diabetes, câncer, doenças respiratórias crônicas e distúrbios mentais.

Até 80% dessas vítimas se encontra em países em desenvolvimento, onde os quatro grandes fatores de risco (fumo e consumo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo) tendem a aumentar.

O mesmo vale para os fatores biológicos de risco: aumento da pressão arterial, do colesterol, da glicose no sangue e um alto índice de massa corporal (medida calculada em função da estatura e do peso da pessoa).

Essa constatação derruba o mito de que as doenças não-contagiosas afetam principalmente os países ricos.

Fonte: OMS

terça-feira, 9 de março de 2010

Mulheres de meia idade que bebem álcool podem ganhar menos peso do que as abstêmias

Mulheres que bebem quantidade leve a moderada de álcool pode ganhar menos peso do que as abstêmias à medida que envelhecem, os relata a Archives of Internal Medicine.

Aproximadamente 19.000 profissionais de saúde do sexo feminino com peso normal, de meia-idade, responderam questionários de freqüência de consumo de álcool e de alimentos e, em seguida, foram seguidas por uma média de 13 anos. Durante esse tempo, 41% desenvolveram sobrepeso ou obesidade.

Após o ajuste para fatores como idade, consumo de energia não-alcoólica e atividade física, as mulheres que beberam de 0,5 a 2 doses por dia tinham significativamente menos probabilidade de se desenvolverem sobrepeso ou obesidade durante o acompanhamento, em comparação com aquelas que se abstiveram de beber.

Os autores escrevem que o consumo de álcool pode resultar em uma perda líquida de energia no sexo feminino (possivelmente explicado por alterações metabólicas ou da ingestão de alimentos menos calóricos). No entanto, eles enfatizam a importância de "avaliar os efeitos adversos e benéficos do comportamento de beber em um contexto amplo" antes de fazer recomendações sobre o uso de álcool.

Archives of Internal Medicine (Resumo gratuito, texto integral requer assinatura)

terça-feira, 2 de março de 2010

Benefícios da vitamina D intrigam estudiosos

Por TARA PARKER-POPE

Imagine um tratamento que desenvolva os ossos, fortaleça o sistema imunológico e reduza o risco de doenças como diabete, problemas cardíacos e renais, hipertensão e câncer. Algumas pesquisas sugerem que esse tratamento tão maravilhoso já existe. É a vitamina D, um nutriente que o organismo produz a partir da luz do sol e que também é encontrado em peixes e no leite fortificado.
Mas não comece a devorar suplementos de vitamina D ainda. A empolgação quanto a seu potencial para a saúde permanece bem à frente da ciência.
Embora numerosos estudos tenham sido promissores, há escassos dados de testes clínicos aleatórios. Pouco se sabe sobre os níveis ideais da vitamina D, se aumentá-los melhora a saúde, e quais são os possíveis efeitos colaterais de doses elevadas.
E, como a maioria dos dados vem de pesquisas observacionais, é possível que as doses elevadas não tornem realmente as pessoas mais saudáveis, e sim que as pessoas saudáveis simplesmente façam coisas que por acaso elevam a vitamina D.
"Correlação não necessariamente significa uma relação de causa-efeito", disse JoAnn Manson, professora da Universidade Harvard e chefe de medicina preventiva do hospital Brigham and Women's, em Boston.
"As pessoas podem ter níveis elevados de vitamina D porque fazem muito exercício e recebem exposição de luz ultravioleta por se exercitarem ao ar livre", disse Manson. "Ou podem ter vitamina D alta porque se preocupam com a saúde e tomam suplementos. Mas também têm uma dieta saudável, não fumam e fazem muitas outras coisas que as mantêm saudáveis."
Manson está comandando um grande estudo ao longo dos próximos cinco anos para tentar responder essas e outras questões. Estão sendo recrutados 20 mil adultos mais velhos para que se avalie se doses elevadas de vitamina D e do ácido graxo ômega-3 de suplementos de óleo de peixe reduzem o risco de doença cardíaca ou de câncer.
A professora disse que os suplementos de óleo de peixe foram incluídos no estudo porque são outro tratamento promissor que sofre com a escassez de evidências clínicas. Além disso, tanto a vitamina D quanto o óleo de peixe têm um conhecido efeito anti-inflamatório, mas cada um funciona por um caminho diferente no organismo, então pode haver benefícios adicionais na combinação de ambos.
Os participantes do estudo serão divididos em quatro grupos. Um deles tomará vitamina D e pílulas de óleo de peixe. Dois tomarão vitamina D ou o suplemento de óleo de peixe, mais um placebo. O quarto grupo tomará dois placebos.
Atualmente, a dose recomendada de vitamina D via alimentação e suplementos é de cerca de 400 unidades internacionais (UIs) por dia para a maioria das pessoas, mas muitos especialistas acham que provavelmente isso é pouco. O Instituto de Medicina dos EUA está revendo as diretrizes sobre a vitamina D e deve elevar a dose diária recomendada.
Os participantes do estudo tomarão 2.000 UIs de vitamina D3, supostamente a forma mais usada pelo organismo. O estudo usará suplementos de 1 grama do óleo de peixe com ômega-3, cerca de 5 a 10 vezes a ingestão média diária.
Mas os médicos alertam os consumidores a não cederem à tentação de começar a tomar 2.000 UIs de vitamina D por dia. Vários estudos recentes sobre nutrientes como vitaminas E e B, selênio e beta-caroteno se mostraram frustrantes -sugerindo até que doses altas fazem mais mal do que bem, elevando o risco de problemas cardíacos, diabete e câncer, dependendo do suplemento.

Fonte: Folha de São Paulo, tradução do New York Times (aqui, exclusivo para assinantes)