Moléculas aparentadas com o princípio ativo da pimenta repeliram mosquitos por até 73 dias; agora, testes dirão se são tóxicas para humanos.
Levou mais de meio século, mas surgiu agora uma nova família de repelentes de insetos mais eficaz que o produto mais usado hoje no mundo, o DEET. Alguns deles são bem mais eficientes, repelindo mosquitos por até três vezes mais tempo.
Mas ainda é necessário fazer testes para uso humano, e alguns anos devem se passar até que as prateleiras das farmácias exibam essas novas armas contra os transmissores da dengue, da malária e da febre amarela -doenças que sempre assolaram ou voltaram a assolar os brasileiros.
"O processo de comercialização pode às vezes levar anos. Baseado nos requerimentos nos Estados Unidos, nós vamos precisar obter uma aprovação toxicológica antes de testar na pele de voluntários humanos. E, caso os repelentes tenham bom desempenho, vai ser preciso então fazer mais testes toxicológicos para determinar quaisquer efeitos crônicos, de longo prazo", disse à Folha um dos autores do estudo, Ulrich Bernier, pesquisador do Departamento de Agricultura dos EUA. Ele e seus colegas testaram vários compostos conhecidos como N-acilpiperidinas, substâncias aparentadas com o ingrediente ativo da pimenta.
A eficácia dos compostos foi testada em "cobaias" humanas, que eram expostas a pernilongos usando luvas impregnadas com os repelentes. Enquanto o DEET repelia os insetos por 17,5 dias em média, as N-acilpiperidinas mantinham seu poder por até 73 dias.
O estudo com a nova classe de repelentes foi feito graças a um programa de computador capaz de integrar dados da estrutura química dos compostos com suas atividades.
A ação repelente dos compostos foi prevista a partir da sua estrutura química, um processo de "design racional" usado na indústria farmacêutica para desenvolvimento de drogas, mas até agora incomum no caso de repelentes.
Esse software, conhecido pela sigla (e marca registrada) CODESSA, foi criado pela empresa americana Semichem e pelos pesquisadores Alan Katritzky, da Universidade da Flórida (nos EUA), e Mati Karelson, da Universidade de Tartu, na Estônia.
A equipe de Katritzky publicou o artigo sobre a síntese e os testes com os novos repelentes de mosquito na atual edição da revista científica "PNAS" (www.pnas.org).
Forma e função
"Acredita-se que os insetos detectem os repelentes através da captação por receptores de moléculas com características químicas específicas. Portanto, nós conduzimos estudos extensivos da relação entre estrutura molecular e a propriedade biológica observada da repelência", escreveram os autores no artigo científico.
Não é fácil manter uma repelência duradoura. Mesmo sendo eficaz, o repelente padrão, desenvolvido pelo Exército dos EUA logo depois da Segunda Guerra Mundial e conhecido como DEET (abreviatura de N,N-dietil-meta-toluamida), não é recomendável para uso em crianças pequenas e mulheres grávidas. Só recentemente se descobriu que os receptores de odor dos insetos são os alvos moleculares do DEET.
Repelentes também perdem efeito pela evaporação, absorção pela pele ou pelo efeito da água e da transpiração.
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