terça-feira, 27 de maio de 2008

Vitaminas podem encurtar a vida e não prolongá-la, diz estudo

Comprimidos com antioxidantes são usados por quem quer retardar a velhice.
Médicos alertam que eles devem ser consumidos com muito cuidado.

Do New York Times

Um estudo sobre 67 testes aleatórios realizados com suplementos antioxidantes não encontrou nenhuma evidência de que eles prolonguem a vida e ainda descobriu uma forte evidência de que eles podem encurtá-la. Os testes incluíram quase 250 mil participantes, incluindo pessoas saudáveis e pessoas com vários tipos de doenças.

Os autores do estudo descobriram que, no geral, suplementos antioxidantes não tiveram efeito sobre a mortalidade. No entanto, nos estudos mais extremos (19 testes duplo-cego com boa aleatoriedade e acompanhamento), suplementos em doses consideravelmente mais altas que aquelas contidas em pílulas com múltiplas vitaminas aparentaram aumentar o risco de morte em 16% para vitamina A, 7% para betacaroteno e 4% para vitamina E. Não houve diferença se os grupos testados estavam doentes ou saudáveis. Vitamina C e selênio, por outro lado, não tiveram efeito discernível.

Os autores defendem suas conclusões assertivamente. "Betacaroteno, vitamina A e vitamina E, administradas individualmente ou combinadas com outros suplementos antioxidantes, aumentam significativamente a mortalidade", escrevem.

O estudo, publicado em 16 de abril na Cochrane Library, também conclui que é necessário realizar mais pesquisas sobre a vitamina C e o selênio. Mas os autores alertam que, devido aos riscos dos suplementos antioxidantes em geral, esses trabalhos deverão ser realizados sob a direção de comitês de segurança e com monitoramento de dados independente e cuidadoso.

Spray de Pimenta para repelir insetos

Moléculas aparentadas com o princípio ativo da pimenta repeliram mosquitos por até 73 dias; agora, testes dirão se são tóxicas para humanos.

Levou mais de meio século, mas surgiu agora uma nova família de repelentes de insetos mais eficaz que o produto mais usado hoje no mundo, o DEET. Alguns deles são bem mais eficientes, repelindo mosquitos por até três vezes mais tempo.
Mas ainda é necessário fazer testes para uso humano, e alguns anos devem se passar até que as prateleiras das farmácias exibam essas novas armas contra os transmissores da dengue, da malária e da febre amarela -doenças que sempre assolaram ou voltaram a assolar os brasileiros.
"O processo de comercialização pode às vezes levar anos. Baseado nos requerimentos nos Estados Unidos, nós vamos precisar obter uma aprovação toxicológica antes de testar na pele de voluntários humanos. E, caso os repelentes tenham bom desempenho, vai ser preciso então fazer mais testes toxicológicos para determinar quaisquer efeitos crônicos, de longo prazo", disse à Folha um dos autores do estudo, Ulrich Bernier, pesquisador do Departamento de Agricultura dos EUA. Ele e seus colegas testaram vários compostos conhecidos como N-acilpiperidinas, substâncias aparentadas com o ingrediente ativo da pimenta.
A eficácia dos compostos foi testada em "cobaias" humanas, que eram expostas a pernilongos usando luvas impregnadas com os repelentes. Enquanto o DEET repelia os insetos por 17,5 dias em média, as N-acilpiperidinas mantinham seu poder por até 73 dias.
O estudo com a nova classe de repelentes foi feito graças a um programa de computador capaz de integrar dados da estrutura química dos compostos com suas atividades.
A ação repelente dos compostos foi prevista a partir da sua estrutura química, um processo de "design racional" usado na indústria farmacêutica para desenvolvimento de drogas, mas até agora incomum no caso de repelentes.
Esse software, conhecido pela sigla (e marca registrada) CODESSA, foi criado pela empresa americana Semichem e pelos pesquisadores Alan Katritzky, da Universidade da Flórida (nos EUA), e Mati Karelson, da Universidade de Tartu, na Estônia.
A equipe de Katritzky publicou o artigo sobre a síntese e os testes com os novos repelentes de mosquito na atual edição da revista científica "PNAS" (www.pnas.org).

Forma e função
"Acredita-se que os insetos detectem os repelentes através da captação por receptores de moléculas com características químicas específicas. Portanto, nós conduzimos estudos extensivos da relação entre estrutura molecular e a propriedade biológica observada da repelência", escreveram os autores no artigo científico.
Não é fácil manter uma repelência duradoura. Mesmo sendo eficaz, o repelente padrão, desenvolvido pelo Exército dos EUA logo depois da Segunda Guerra Mundial e conhecido como DEET (abreviatura de N,N-dietil-meta-toluamida), não é recomendável para uso em crianças pequenas e mulheres grávidas. Só recentemente se descobriu que os receptores de odor dos insetos são os alvos moleculares do DEET.
Repelentes também perdem efeito pela evaporação, absorção pela pele ou pelo efeito da água e da transpiração.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Nenhum Tratamento Clínico ou Cirúrgico É Capaz de Diminuir o Número de Células Adiposas

imagens de células adipócitasA revista científica inglesa Nature, no seu número de 4 de maio, publica um interessante estudo de um um grupo de pesquisadores do Institutuo Karolinska da Dinamarca.

A pesquisa foi liderada por Kirsty Spalding que demonstrou que o número de células de gordura permanece fixo a partir de 20 anos. Depois desta idade, nada é capaz de diminuir essa quantidade, seja por tratamentos clínicos ou cirúrgicos. A cada ano, independente de a pessoa estar gorda ou magra, 10% das células de gordura morrem. Porém, elas são substituidas por células mais jovens e mais ávidas em gorduras. O artigo tem o nome de "Dynamics of fat cell turnover in humans". A técnica utilizada incluiu a análise da integração de carbono radioativo no DNA da população estável dos adipócitos.

Esta é uma má notícia para todas as pessoas que precisam perder peso, pois os tratamentos assim não modificam o número de adipócitos e sim apenas a quantidade de gordura que está armazenada nestas células.

Os pesquisadores examinaram 742 pessoas, incluindo crianças, jovens e adultos de diferentes idades, e descobriram que o número de células adiposas aumenta na infância e não varia na idade adulta.

Em 687 delas, os pesquisadores realizaram biópsias do tecido da região abdominal.

Os resultados foram os seguintes:

  • Uma pessoa com peso normal acumula de 20 a 30 bilhões de adipócitos.
  • No obeso, este número varia de 60 a 80 bilhões.
  • A quantidade de células adiposas é determinada até os 20 anos e depois dessa idade não muda.
  • Todos os anos, 10 % dos adipócitos são renovados. Essas células jóvens aumentam de tamanho com mais facilidade.
  • 75 % das crianças e jovens gordos serão adultos obesos.

O efeito da cirurgia bariátrica também serviu como paramêtros de pesquisa. Em 20 voluntários obesos foram estudadas amostras de tecido adiposo antes e dois anos após a cirurgia. Apesar da perda de peso depois da cirurgia barátrica, o número de células adiposas tinha permanecido o mesmo. É por isto que um certo número destes pacientes voltam a ganhar peso com facilidade e, mais do que isto, fica mais fácil explicar o chamado efeito sanfona que é o ganho de peso que ocorre nas pessoas que fazem tratamentos clínicos e voltam a engordar, sempre para um nível superior ao do tratamento anterior.

Lester Salans, professor da Escola de Medicina Mount Sinai, em Nova York, declarou: "esta é uma nova maneira de olhar para a obesidade". Mas Stephe O'Rahly, da Universidade de Cambridge, disse que não está convencido que o número de células se mantém fixo, afirmando: Há no tecido adiposo adulto células que não contêm gordura, mas que podem acumular estas substâncias, dependendo das condições nutricionais. E finalizou: "as conclusões do estudo são prematuras".

No entanto, a experiência clínica dos médicos e pacientes em manterem um ex-obeso com baixo peso, mostra que os pesquisadores dinarmaqueses podem estar corretos.

Fonte:

Diabetes Hoje no site da SBD por Reginaldo Albuquerque

Links:

http://www.nature.com/nature/journal/vaop/ncurrent/abs/nature06902.html

http://www.nature.com/nature/journal/v453/n7192/full/453169a.html

terça-feira, 20 de maio de 2008

Efeito do rimonabanto sobre a progressão da aterosclerose em pacientes com obesidade abdominal e doença arterial coronariana

Pesquisadores ligados ao STRADIVARIUS Randomized Controlled Trial publicaram, recentemente, no JAMA, os resultados do estudo em que determinaram se a perda de peso e os efeitos metabólicos do rimonabanto, um antagonista do receptor canabinóide seletivo tipo 1, reduzem a progressão da doença coronariana em pacientes com obesidade abdominal e síndrome metabólica.

Foi realizado um ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, com dois grupos paralelos, que comparou rimonabanto a placebo em 839 pacientes em 112 centros na América do Norte, Europa e Austrália. Os pacientes receberam aconselhamento dietético e foram randomizados para tratamento com rimonabanto 20 mg/dia ou placebo, e foram submetidos à ultrassonografia intravascular coronariana  em momento basal (n = 839) e ao término do estudo (n = 676). O parâmetro primário de eficácia foi a alteração percentual do volume da placa de ateroma (PAV); o parâmetro secundário foi a alteração do volume total normalizado do ateroma (TAV).

No grupo rimonabanto, comparado ao grupo placebo, PAV (IC95%) aumentou 0,25% (-0,04 a 0,54%) vs 0,51% (0,22% a 0,80%) (P = 0,22), respectivamente, e TAV diminuiu 2,2 mm³ (-4,09 a –0,24) vs aumento de 0,88 mm³ (-1,03 a 2,79) (P = 0,03). No grupo rimonabanto vs placebo, os resultados incluídos baseados nas características basais para pacientes que não completaram o ensaio clínico, PAV diminuiu 0,25% (-0,04% a 0,55%) vs 0,57% (0,29% a 0,84%) (P = 0,13), e TAV diminuiu 1,95 mm³ (-3,8 a 0,10) vs aumento de 1,19 mm³ (-0,73 a 3,12) (P = 0,02). Pacientes tratados com rimonabanto apresentaram maior redução do peso corporal (4,3 kg [-5,1 a –3,5] vs 0,5 kg [-1,3 a 0,3]) e maior diminuição da circunferência do quadril (4,5 cm [-5,4 a –3,7] vs 1,0 cm [-1,9 a –0,2]) (P < 0,001 para ambas as comparações). Nos grupos rimonabanto vs placebo, os níveis de HDL-colesterol aumentou 5,8 mg/dL (4,9 a 6,8) (22,4%) vs 1,8 mg/dL (0,9 a 2,7) (6,9%) (P < 0,001), e os níveis medianos de triglicérides diminuíram 24,8 mg/dL (-35,4 a –17,3) (20,5%) vs 8,9 mg/dL (-14,2 a –1,8) (6,2%) (P < 0,001). Pacientes tratados com rimonabanto apresentaram maiores diminuições dos níveis de proteína C-reativa de alta sensibilidade (1,3 mg/dL [-1,7 a –1,2] [50,3%] vs 0,9 mg/dL [-1,4 a –0,5] [30,9%]) e menor aumento dos níveis de hemoglobina glicada (0,11% [0,02% a 0,20%] vs 0,40% [0,31% a 0,49%]) (P < 0,001 para ambas as comparações). Efeitos adversos psiquiátricos foram mais comuns no grupo rimonabanto (43,4% vs 28,4%; P < 0,001).

Portanto, os pesquisadores concluíram que,

após 18 meses de tratamento, o estudo falhou em demonstrar um efeito do rimonabanto sobre a progressão da doença para o desfecho primário (PAV), porém evidenciou um efeito favorável sobre os desfechos secundários (TAV). Determinar se o rimonabanto é útil no controle da doença coronariana necessitará de estudos de imagem e de desfechos adicionais, que já estão em andamento.

Fonte: São Paulo Medical.

Referência:

Effect of rimonabant on progression of atherosclerosis in patients with abdominal obesity and coronary artery disease - JAMA 2008;29(13):1547-1560 [Abstract]

segunda-feira, 19 de maio de 2008

"Radiação teleguiada" ataca câncer raro

Técnica em teste reduziu sintomas em pacientes de tumor carcinóide que reagiram mal a outros tipos de tratamento

Novo método em teste no hospital A. C. Camargo usa elemento radiativo ligado a moléculas que procuram as células tumorais no corpo

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Folha de São Paulo, segunda-feria, 19 de maio de 2008 link

Um grupo de médicos está testando em São Paulo um novo tratamento contra um tipo de câncer raro. A técnica, que pode ser descrita como um "veneno radiativo teleguiado", conseguiu abrandar os sintomas de 13 pacientes dos chamados tumores carcinóides -variedade persistente da doença que tem origem em células de glândulas ligadas ao sistema nervoso. O método está agora em fase final de validação.
Para desenvolver a técnica no Brasil foi necessária a participação do Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), conta o médico Eduardo Nóbrega, do Departamento de Imagem do Hospital A. C. Camargo (antigo Hospital do Câncer de São Paulo), um dos responsáveis pelos testes da técnica no Brasil (por enquanto ela só existe na Holanda e nos Estados Unidos).
A radioatividade usada pelos pesquisadores vem do elemento químico lutécio, que os cientistas ligam a uma molécula orgânica artificial batizada de octreotato. Os tumores carcinóides produzem grande quantidade de hormônios e provocam metástase, o espalhamento do câncer pelo corpo. A molécula criada pelos cientistas se vale justamente dessa característica para identificar o tumor e atacá-lo com lutécio-177, a variedade radiativa do elemento.
"A porção lutécio-177 [da molécula] consegue destruir as células do tumor em todos os locais onde ela se esconde [metástases]", diz o médico. Isso porque, com a fixação do elemento na superfície das células tumorais, a irradiação se torna bastante localizada.

Ainda não é a cura
Os teste da nova técnica no A.C. Camargo inspira otimismo. Um dos voluntários é um médico que voltou a clinicar, e outro é um estudante que agora frequenta as aulas. A palavra "cura", porém ainda não se aplica nestes casos, alertam Nóbrega e o seu colega de instituição Marcelo Cavicchioli.
A técnica é segura e eficaz -e já foi até oferecida em algumas instituições particulares- dizem eles, mas seu papel primordial é melhorar a qualidade de vida das pessoas.
"Estes tumores carcinóides surgem principalmente no trato gastrointestinal" conta Nóbrega. "A produção de hormônios determina a síndrome carcinóide, que se caracteriza pela presença de ondas de calor, rubor facial e diarréia constante e incontrolável", diz.

Último recurso
Apesar de os médicos não conseguirem precisar o benefício da técnica em números, ela fez com que os 13 pacientes ganhassem meses ou anos a mais de vida. "Esse tratamento é para quando não resta mais nada a fazer. Os resultados são animadores", diz Cavicchioli.
O primeiro paciente a ser testado em São Paulo recebeu a dose inicial em março de 2006. Ao todo, 18 pessoas começaram o estudo. Além de duas mortes -o estado dessas pessoas já era quase irrecuperável, segundo os médicos-, uma mulher engravidou e interrompeu o tratamento. Outros dois pacientes desistiram de tomar mais doses porque conseguiram melhora com técnicas mais comuns.
Nem todo paciente de tumor carcinóide pode suportar as infusões venosas da nova molécula terapêutica, diz Nóbrega. O método traz um certo grau de risco para os rins, entre outros problemas. Por isso, a lista de pré-requisitos para receber esse tratamento não é curta.
Outra opção em curso hoje é a intervenção cirúrgica. "O problema é que, às vezes, os tumores se instalam em locais inacessíveis, e a radioterapia e a quimioterapia já não respondem mais", diz o médico.
É nesses casos que técnicas novas como a testada por Nóbrega têm papel fundamental.

domingo, 4 de maio de 2008

Produção de carne e a poluição com antibióticos

A fundação norte-americana Pew Charitable Trusts é conhecida por apostar fundo na produção de conhecimento e ferramentas de análise para resolver problemas contemporâneos e aperfeiçoar políticas públicas. Na semana passada, publicou um relatório duro da comissão que trabalhou dois anos e meio sobre o sistema industrial de produção de carne (bois, porcos e aves). É de tirar o apetite.
O estudo de 124 páginas recebeu o título de "Pondo a Carne na Mesa" e pode ser baixado da página da Pew na internet (www.pewtrusts.org). Vai direto ao ponto: "O sistema atual para produção de alimentos de origem animal nos Estados Unidos não é sustentável e representa um inaceitável nível de risco para a saúde pública e de dano ao ambiente, assim como traz malefício desnecessário aos animais que criamos para comer".
O relatório lista "n" fatores em apoio a essa conclusão. Um dos preponderantes, que acabou se tornando muito atual, é a dependência da agropecuária americana dos preços baixos do milho, base da ração usada para o animal ganhar peso em confinamento. A demanda pelo grão para produzir álcool combustível está pulverizando essa fonte barata de proteína, justamente no momento em que o preço do petróleo -de onde saem combustíveis para máquinas e matérias-primas para fertilizantes e defensivos- também bate recordes.
No quesito água, o estudo fornece uma informação preocupante: metade do aqüífero Ogallala já foi exaurida. Com mais de 450 mil quilômetros quadrados, o reservatório debaixo dos Estados de Nebraska, Kansas, Colorado, Oklahoma, Novo México e Texas fornece 20% de toda a água usada em irrigação nos EUA. Não demora em acabar, pois está baixando cerca de um metro por ano.
Chocantes, mesmo, são as conclusões na área dos efeitos sobre a saúde pública. Das 12 recomendações do capítulo, metade diz respeito ao abuso de antibióticos na agropecuária. Além de prevenir e tratar infecções nos animais, antibióticos também são empregados como aditivos na ração, para aumentar o ganho de peso.
Quanto mais se usam antibióticos, em humanos ou animais, pior se torna o problema da resistência. A maior parte das bactérias expostas a esses remédios morre. As poucas que tiverem resistência ao composto, porém, ganham uma enorme vantagem competitiva e se reproduzem rapidamente, passando a infectar os organismos sem que o antibiótico em questão possa eliminá-las. Com o tempo, surgem cepas terríveis de micróbios, que deixam os médicos sem ação.
O relatório diz que o fenômeno da resistência já se tornou "epidêmico". Propõe, por isso, uma medida radical: banir todo uso não-terapêutico de antibióticos na pecuária. Ou seja, essas drogas só poderiam ser empregadas para tratar animais com infecção ou para prevenir infecções naqueles que comprovadamente tenham sido expostos a elas. Quanto ao uso terapêutico, propõe tornar obrigatória a regra de excluir do tratamento de animais aqueles antibióticos classificados como importantes para a saúde humana.
A Suécia baniu os antibióticos não-terapêuticos em 1986. A Dinamarca, em 1998. A União Européia, em 2006. Como resultado, vem diminuindo o reservatório de genes para resistência que poderia armar os germes capazes de atacar humanos (bactérias trocam material genético a torto e a direito).
E você, já ingeriu a sua ração diária de antibióticos?
Fonte:
Marcelo Leite Folha de São Paulo, domingo, 4 de maio de 2008 (para assinantes clique aqui)

Celulares e a saúde

Pesquisadores pedem restrições a a uso de celulares

Depois de quase 3 décadas de pesquisa, no entanto, relação entre esses aparelhos e risco de câncer não foi estabelecida

Estados de São Paulo e do Rio aprovam leis mais rígidas sobre colocação de antenas; empresas afirmam que não há perigo algum


O primeiro estudo científico que associou a exposição a campos eletromagnéticos de baixa freqüência, como o provocado por antenas de celulares, e a ocorrência de câncer foi publicado em 1979. Milhares de pesquisas e muita polêmica depois, ainda não há consenso sobre a relação entre as antenas, o uso desses aparelhos e a saúde.
Entretanto, com base no princípio da precaução, pesquisadores de diversas universidades, como a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e a Unicamp, defendem que a população seja alertada sobre os possíveis riscos e que sejam definidas restrições maiores às ERBs (Estações Rádio-Base) - as antenas de celular. Eles querem, além de antenas mais espaçadas umas das outras e com menor potência, que as pessoas usem o celular o mínimo possível.
"Não está sendo respeitado o direito à informação da população. A meu ver, deveriam ser divulgadas recomendações de falar somente o essencial em telefones móveis -celulares ou telefones sem fio", diz Álvaro Almeida de Salles, da Escola de Engenharia da UFRGS.
Ele cita estudos do grupo de Lennart Hardell, do Departamento de Oncologia do Hospital Universitário de Orebo (Suécia). "Há um aumento substancial na incidência de tumores cerebrais entre os usuários mais constantes dos celulares e telefones sem fio, coincidindo com o lado da cabeça em que normalmente eles são usados. Os resultados somente aparecem para períodos iguais ou maiores que dez anos."

Não criemos pânico
Para Sérgio Koifman, epidemiologista da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), é importante não gerar pânico na população. De acordo com ele, o fumo é um fator de risco para câncer muito mais preocupante.
De toda forma, ele concorda que deve ser adotado o princípio da precaução e avalia que o aparelho precisa ser utilizado com moderação. "O celular não é um meio de comunicação para usar de forma contínua."
Koifman ressalta que na Inglaterra, por exemplo, existe a recomendação para as crianças não usarem esse telefone móvel. "O cérebro da criança tem um crescimento muito intenso durante a infância", afirma.
O advogado João Carlos Peres, presidente da Abradecel (Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários Intranqüilos com Equipamentos de Telefonia Celular), afirma que é "lobby da indústria" a versão de que os estudos até hoje são inconclusivos. Ele cita estudos na Alemanha e em Israel, publicados em 2004, que indicam que pessoas que vivem próximas a antenas têm mais risco de desenvolver câncer.
Na semana passada, o Ministério Público do Rio de Janeiro instaurou uma investigação para analisar o impacto do uso de celulares para a saúde dos usuários. O inquérito foi motivado pela divulgação de uma pesquisa em que o médico Vini Khurana, da Faculdade Nacional de Medicina da Austrália, afirma que há oito estudos clínicos que indicam uma ligação entre o uso de celulares e certos tumores no cérebro. O estudo é contestado por uma organização que reúne diversos institutos científicos do país para pesquisar a radiofreqüência.

Não criemos pânico
Para Sérgio Koifman, epidemiologista da Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), é importante não gerar pânico na população. De acordo com ele, o fumo é um fator de risco para câncer muito mais preocupante.
De toda forma, ele concorda que deve ser adotado o princípio da precaução e avalia que o aparelho precisa ser utilizado com moderação. "O celular não é um meio de comunicação para usar de forma contínua."
Koifman ressalta que na Inglaterra, por exemplo, existe a recomendação para as crianças não usarem esse telefone móvel. "O cérebro da criança tem um crescimento muito intenso durante a infância", afirma.
O advogado João Carlos Peres, presidente da Abradecel (Associação Brasileira de Defesa dos Moradores e Usuários Intranqüilos com Equipamentos de Telefonia Celular), afirma que é "lobby da indústria" a versão de que os estudos até hoje são inconclusivos. Ele cita estudos na Alemanha e em Israel, publicados em 2004, que indicam que pessoas que vivem próximas a antenas têm mais risco de desenvolver câncer.
Na semana passada, o Ministério Público do Rio de Janeiro instaurou uma investigação para analisar o impacto do uso de celulares para a saúde dos usuários. O inquérito foi motivado pela divulgação de uma pesquisa em que o médico Vini Khurana, da Faculdade Nacional de Medicina da Austrália, afirma que há oito estudos clínicos que indicam uma ligação entre o uso de celulares e certos tumores no cérebro. O estudo é contestado por uma organização que reúne diversos institutos científicos do país para pesquisar a radiofreqüência.

Legislação diferente
Algumas regiões têm mais restrições para antenas e celulares. Em março, foi aprovada uma diretriz estadual no Rio que prevê que as antenas não podem ser colocadas a uma distância horizontal inferior a 100 m de escolas, 50 m de residências ou 30 m de teatros.
Em São Paulo, uma lei estadual determina que o ponto de emissão de radiação da antena deverá estar, no mínimo, a 30 m de distância da divisa do imóvel onde estiver instalada.
Uma lei municipal de Porto Alegre determina que as empresas que vendem celulares são obrigadas a distribuir, "no ato da venda, material explicativo" com informações sobre a radiação e cuidados a tomar.
A Associação Nacional das Operadoras Celulares questiona na Justiça as normas de Porto Alegre e de São Paulo -o argumento é que Estados e municípios não têm competência para legislar sobre o assunto.

Fonte:
Folha de São Paulo, domingo, 4 de maio de 2008 (exclusivo para assinantes clique aqui

Nutrição -- Café e Vinho -- e Coração

Folha de S.Paulo - Plantão Médico: Suco de uva é bom para o coração - 04/05/2008
(é necessário ser assinante para ler a notícia)
JULIO ABRAMCZYK
Colunista da FOLHA

Durante três dias, cerca de 7.000 médicos assistiram às palestras e conferências de atualização das várias áreas da cardiologia moderna durante as sessões do 29º Congresso da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), encerrado ontem no Expo Center Norte, na capital.
Os efeitos cardiovasculares do café foram abordados por Rosana Perin Costa, que estudou o perfil lipídico (gorduras no sangue) quando no preparo do café é usado coador ou filtro de papel, que retém substâncias gordurosas: não houve aumento do colesterol.
Ao contrário, o colesterol aumenta no consumo de café expresso e café à moda árabe. Silmara Regina Coimbra mostrou, com base em pesquisa da sua tese de doutorado na FMUSP, a ação benéfica do suco de uva e do vinho tinto na proteção de eventos cardiovasculares em portadores de colesterol alto, pela ação de flavonóides existentes nos líquidos derivados da uva.
Élcio Pfeferman referiu redução de substâncias pró-trombóticas em 30% quando do consumo de 30g/dia de álcool e redução de doença coronária em 24%. Destacou que o consumo exagerado de álcool, porém, pode levar à morte súbita em portadores de doenças das coronárias pelo efeito arritmogênico.
O vice-presidente da Socesp, Luiz Antonio Machado César, analisou a ação protetora do café em diabéticos. Citou pesquisa realizada na Finlândia com diabéticos altos consumidores de café, na qual foi observada redução da mortalidade por problemas do coração, relacionada à redução da taxa de açúcar no sangue.

Cirurgia corretiva de visão, Lasik é alvo de contestações

Folha de S.Paulo - Saúde/Visão: Cirurgia corretiva de visão, Lasik é alvo de contestações - 04/05/2008
(é necessário ser assinante para ler a nóticia)

Entidades e pacientes reclamam do Lasik, alegando que não produz efeitos desejados

Presidente de conselho de oftalmologia, porém, diz que a cirurgia a laser tem resultados "extremamente bons" quando bem indicada

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Aclamada por médicos e pacientes como uma cirurgia com excelentes resultados em pessoas com miopia, hipermetropia ou astigmatismo, a operação conhecida como Lasik também é alvo de contestações. Algumas entidades e pacientes reclamam que há chances consideráveis de a cirurgia não produzir os efeitos desejados, além do risco de seqüelas.
O último órgão a propor uma discussão sobre a cirurgia foi o FDA, agência que regula o setor de saúde nos EUA -onde o Lasik é usado desde 1998. O órgão iniciou audiências públicas em abril para debater a técnica e prepara um estudo para entender melhor quem tem maus resultados e se será necessário emitir um alerta.
"Há claramente um grupo não satisfeito e que não consegue o resultado esperado", disse Daniel Schultz, chefe de procedimentos médicos do FDA.
Uma das entidades que lutam por restrições à técnica está na internet. O site www.la sikdisaster.com reúne estudos e depoimentos contra o Lasik, afirmando que ele pode ter "conseqüências desastrosas". Pacientes contam que ficaram com seqüelas, principalmente olho seco ou perda de visão. Nos estudos disponibilizados, tenta-se comprovar os riscos. Um deles defende que até 60% dos pacientes podem ter olho seco após a operação.
Outro argumento é o desconhecimento dos efeitos a longo prazo, já que o Lasik passou a ser usado apenas nos anos 90. Desde então, ele se popularizou e se tornou uma ferramenta usada em mais de um milhão de pessoas por ano no mundo, segundo sites médicos.
O Lasik consiste no corte de uma fina camada da córnea que permite a passagem do laser. Ele remodela a córnea seguindo um mapa feito com informações colhidas anteriormente sobre o olho do paciente e o que precisa ser alterado.
Hamilton Moreira, presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, diz que, considerando os limites do laser, a cirurgia tem resultados "extremamente bons" quando bem indicada. "Tudo, em medicina, é uma relação entre expectativa e realidade. O que aconteceu nos primeiros anos do Lasik foi uma expectativa de supervisão, como um verdadeiro milagre, mas, depois, o paciente percebia que havia limitações."
Entre elas, o grau do problema: pessoas com mais de sete graus de miopia, por exemplo, não costumam receber a indicação.
Moreira, que diz considerar-se um entusiasta do Lasik, afirma que as complicações verificadas em sites com o "lasikdisaster" estão relacionadas à enorme quantidade de pacientes submetidos à cirurgia.
"É uma das operações mais feitas no mundo. Por isso, é claro que tem também um número maior de complicações, inerentes a qualquer cirurgia."
Ele diz, entretanto, que a cirurgia alcançou um grau de segurança bastante alto e que ela já não é feita em tantos pacientes como nos primeiros anos.
"Hoje se faz menos e com mais segurança. O sistema ficou todo computadorizado. O médico não precisa mais digitar no computador o grau de miopia do paciente, por exemplo. Isso é automático", diz.