quinta-feira, 31 de maio de 2007

Dieta de baixo carboidrato emagrece mais

Em um estudo realizado pelo Dr. Gardner na Universidade de Stanford comparando quatro tipos de dietas que variavam principalmente na quantidade de carboidratos de baixo a alto carboidrato (Atkins -> Zone -> LEARN -> Ornish) e relação inversa de gorduras.

Foram estudadas mulhres pré-menopausa com sobrepeso ou obesidade entre 25 a 50 anos. A que mais emagreceu após 12 meses foi a dieta Atkins (com baixo carboidrato ou low-carb).

Em média os seguidores da dieta Atkins estavam, após 12 meses, 4,7 kg mais magros que no início da dieta.

Além de emagrecer mais a dieta Atkins foi a que mais aumentou o colesterol HDL (bom colesterol) e abaixou os triglicérides, entrentanto pouco reduziu os níveis de colesterol LDL (mau colesterol).

Os níveis de glicemia em jejum e insulina foram iguais entre as dietas e
relacionou-se com a perda de peso.


Uma ressalva a ser feita é que apesar dos bons resultados na balança e nos fatores metabólicos no médio prazo as dietas de baixo carboidrato, como a Atkins, podem não ser tão saudáveis após o emagrecimento durante a fase de manutenção do peso.


Referências:

Gardner CD et al. Comparison of the Atkins, Zone, Ornish, and LEARN diets for change in weight an related risk factors among overweight premenopausal women. The A TO Z weight loss study: a randomized trial. JAMA; 2007(9):969-977

terça-feira, 22 de maio de 2007

Deita + Exercício = Menos Barriga? Talvez não.

O excesso de gordura acumulado na dentro barriga (dita visceral) é mais prejudicial à saúde que a gordura em excesso acumulada nos quadris e nos outros locais (dita subcutânea) .

Acredita-se que um programa de emagrecimento com dieta e atividade física faça perder mais gordura visceral que um programa com apenas dieta.

Leanne Redman e colaboradores do "Pennington CALERIE Team" (Pennington biomedical Research Center em Baton Rouge, Louisiana) realizaram um estudo clínico aleatório com pessoas com sobrepeso que infelizmente não comprovou esta idéia. A equipe de Redman encontrou que quando se emagrece perde-se a mesma quantidade de gordura corporal (tanto visceral quanto subcutânea) fazendo-se apenas dieta ou dieta e atividade física desde que o déficit calórico seja igual. Isto é, atividade física não ajuda a reduzir a barriguinha mais que dieta.
Pior ainda os dados também sugerem que a massa magra não é preservada com atividade física regular, pelo menos nos indivíduos com sobrepeso.

Esta aparente incapacidade da atividade física em alterar a proporção da distribuição da gordura sugere que a distribuição dos depósitos de gordura sejam programados geneticamente e ou epigeneticamente.

Entretanto a atividade física regular produz indiscutíveis benefícios à saúde além da mudança no peso, como melhora do perfil metabólico e na capacidade aeróbica, além de melhora no humor entre outros benefícios

Referência:

Redman LM et al. Effecti of calorie restriction with or without exercise on body composition and fat distribution. J Clin Endocrinol Metab. 2007;93(3):865-872

Causas (menos óbvias) da obesidade

Pela “Lei de conservação de energia” a gordura corporal (estoque de energia ou energia química) aumenta quando a ingesta é consistentemente maior que o gasto. O excesso de gordura corporal e obesidade são resultado de um balanço energético positivo prolongado.

Pequenas diferenças no consumo de alimentos ou no gasto de energia durante o dia acumulados ao longo de anos podem levar a grandes diferenças de peso e a obesidade.

O gasto energético pode ser divido em três componentes. A taxa metabólica basal é a energia gasta para manter as funções centrais do corpo e é medida em completo repouso durante o jejum, corresponde por aproximadamente 60% do gasto diário em uma pessoa sedentária. Quanto maior uma pessoa maior é o seu metabolismo basal. A termogênese alimentar é o gasto energético desencadeado pela alimentação e está associado com a digestão, absorção e estocagem, corresponde por 10% do gasto energético e não varia muito entre as pessoas. A termogênese por atividade pode ser subdividida em termogênese por atividade de exercício e termogênese por atividade de não-exercício.

A termogênese por atividade pode variar tanto quanto 2000 kcal ou mais entre pessoas de tamanho parecido. É a termogênese por atividade de exercício ou termogênese por atividade de não-exercício responsável por esta variação? Definindo-se exercício como “atividade física para conseguir ou manter condicionamento físico”, a grande maioria da população não pratica atividade física, e mesmo naqueles que a praticam o gasto diário é próximo a 100 kcal. Portanto a termogênese por atividade de não-exercício, que o gasto energético de todas as atividades físicas outras que a prática de esportes voluntária. É responsável pela maior parte da variação no gasto energético diário entre as pessoas. A termogênese por atividade de não-exercício pode ser classificada em gastos ocupacionais e gastos com lazer.

Para melhor entender as diferenças entre obesos e magros, ambos sedentários, mediu-se a termogênese por atividade de não-exercício. Os obesos permaneceram sentados 2½ horas a mais por dia que os magros. Os magros ficaram em pé e andaram 2 horas a mais por dia que os obesos. Se os obesos mudassem suas atividades poderiam queimar mais 350 kcal por dia! Alem disso alimentando-se voluntários magros com um excesso de 1000 kcal por dia as maiores mudanças no gasto energético foram na termogênese por atividade de não-exercício. Aqueles que aumentaram a termogênese por atividade de não-exercício ao máximo quase não ganharam gordura enquanto os que não a aumentaram ganharam mais gordura.

Estas informações demonstram que pode haver um problema com a termogênese por atividade de não-exercício em pessoas obesas sustentada por causas biológicas e ambientais profundas e sutis.

O cérebro é uma peça chave envolvida no controle do peso. O hipotálamo, uma região central do cérebro, recebe informações periféricas do trato digestório e do tecido adiposo realiza a integração destas informações para então controlar o apetite e o gasto energético às necessidades do corpo.

Os seres humanos possuem uma relação única com a comida, além da subsistência há relações intensas com comportamentos elaborados e mensagens sócio-culturais. Neste plano, que pertence à comida, ao comer e à imagem corporal, pode sobrepujar as forças desencadeadas por necessidades metabólicas ou palatabilidade. As pessoas compartilham a comida para construir um senso de comunidade, evitam certos alimentos por questões religiosas e julgam o que é apropriado comer de acordo com futuras previsões e normas culturais (por exemplo, os efeitos a longo prazo sobre o coração ou sobre o peso). Esta dimensão cognitiva, essencialmente humana, de escolhas sobre a alimentação pode exercer um papel crítico na obesidade que não é enfatizado adequadamente.

Vários dados sugerem um papel fundamental no papel do córtex pré-frontal (CPF) na obesidade. Lesões no CPF, como na lobotomia, procedimento psicocirúrgico comum no começo do século que disconecta o lobo frontal do resto do cérebro, causam ganho de peso e alimentação em excesso. Lesão no CPF direito causa uma paixão por comer e por comida refinada chamada de síndrome do glutão. Nos pacientes com demência degenerativa atrofia do CPF direito relaciona-se positivamente com grau de hiporexia. Ao contrário hiperatividade do CPF direito, visto em pacientes com epilepsia no lobo frontal direito, pode causar anorexia que cessa quando as medicações anti-epilepsia são iniciadas.

Dados adicionais ligam o CPF direito e atividade física espontânea. Aumento da ativação do CPF facilita a atividade e pode causar manifestações motoras proeminentes, como durante convulsões epilépticas que surgem desta área. De modo oposto, diminuição da função do CPF pode diminuir a atividade física por seus efeitos sobre as áreas motoras, bem como o ímpeto de se mover causando sedentarismo, apatia e fadiga central. De modo recíproco a atividade física pode modificar o funcionamento do CPF, prática de exercícios físicos melhora o desempenho em tarefas cognitivas relacionadas ao CPF e aumenta o volume do CPF direito. Em concordância com isso, quando comparados com controles sem treino atletas profissionais mostram uma acentuada preferência do hemisfério direito nas tarefas motoras e cognitivas que medem a preferência hemisférica. Um padrão oposto foi encontrado em obesos e o grau de excesso de peso correlacionou positivamente com o grau de preferência pelo hemisfério esquerdo.

O CPF direito está envolvido preferencialmente em guiar decisões segundo a conduta social e em um alto nível de integração de informações. Alterações no funcionamento do CPF direito causam desabilidades na capacidade tomar decisões com impacto no longo prazo. Há evidências que pessoas muito obesas apresentam deficiências na capacidade de tomada de decisões. Estes déficits podem contribuir para a incapacidade dos obesos em aderir a intervenções de perda de peso a longo prazo e pode ajudar a explicar a refratariedade usual aos tratamentos clínicos. O CPF direito está também emergindo como uma área crítica na inteligência moral.

O CPF é também um importante nó dos circuitos neurais que medeiam o auto-reconhecimento. A obesidade pode estar associada com um menor nível de auto-percepção. Pessoas obesas tendem a subestimar o seu próprio peso e a ingesta alimentar e a superestimar o nível de atividade física quando comparado com controles magros. Além disso, quanto mais gorda menor a capacidade de perceber adequadamente vários sinais corporais, como por exemplo, o batimento cardíaco. Esta sensibilidade exacerbada pode ajudar a explicar o aumento na prevalência de queixas psicossomáticas entre os obesos.

A alimentação humana pode ser concebida em um modelo com dois modos. Em um a “alimentação reflexa” representa os impulsos automáticos em alimentar em excesso preparando para períodos de escassez. Este modo mais primitivo é modulado pelo “modo reflexivo” que integra uma dimensão cognitiva, expectativas sociais sobre o próprio corpo, atos coletivos adequados e objetivos de saúde a longo prazo. Neste cenário uma diminuição na atividade do CPF pode ser uma causa subjacente para a mudança no modo reflexivo de alimentar que pode levar a obesidade na atual sociedade industrializada com ampla oferta de alimentos.

Estas hipóteses sobre o padrão de atividade e a capacidade do CPF, principalmente, o direito em motivar atividade física e a escolher os alimentos servem para integrar e fomentar pesquisas entre neurocientistas e pesquisadores do metabolismo energético esclarecendo o aumento na prevalência da obesidade atualmente. Também explica algumas das maiores dificuldades em se conseguir manter o peso sem voltar engordar novamente.

Referências:

Alonso-Alonso M, Pascual-Leone A. The Right Brain Hypothesis for Obesity. JAMA. 2006;297(17):1819-1822

Levine JA. The “NEAT defect” in human obesity: the role of nonexercise activity thermogenesis. Endocrinology Update (Mayo Clinic). 2007; 2(1):1-2

Moll J, Zahn R, de Oliveira-Souza R, Krueger F, Grafman, J. Opinion: the neural basis of human moral cognition. Nat Rev Neurosci, 2005;26(10): 799-809

Le DSNTL, Pannacciulli N, Chen K, Del Parigi A, Salbe AD, Reiman EM, Krakoff J. Less activation of the left dorsolateral prefrontal cortex in response to a meal: a feature of obesity. Am J Clin Nutr. 2006;84(4): 725-731