A falta de cálcio é uma das principais preocupações em saúde alimentar nessa fase, ao lado da carência de ferro e do excesso de calorias
JULLIANE SILVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL PARA A FOLHA DE SÃO PAULO
Uma outra pesquisa, que englobou dados de 1.250 adolescentes de escolas públicas de cinco cidades -Campinas, Piracicaba e Piedade (SP), Toledo (PR) e Seropédica (RJ)- , também aponta o mesmo déficit no consumo de cálcio. "A grande preocupação é que os problemas não surgem agora. Mas daqui a dez ou 20 anos teremos adultos jovens com osteoporose", diz a nutricionista Rozane Bleil, responsável pelo levantamento de dados em Toledo.
As causas para a deficiência são a substituição dos laticínios -principais fontes de cálcio- por refrigerantes e sucos artificiais e a falta do café da manhã, quando a ingestão de laticínios é mais comum. "Nessa fase, as pessoas dormem mais e almoçam direto. Ou, então, acordam atrasadas e comem na escola alimentos menos saudáveis", analisa a nutricionista Bárbara Peters, responsável pelo estudo da USP e pesquisadora do Ambulatório de Fragilidades Ósseas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Entre os adolescentes avaliados por Peters, os que tomavam café da manhã apresentaram as menores deficiências.
Para o hebiatra Benito Lourenço, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, a falta de cálcio é uma das principais preocupações em saúde alimentar do adolescente, ao lado da carência de ferro e da ingestão excessiva de calorias. "Nosso problema é garantir que a deposição de cálcio ocorra de maneira perfeita nessa fase, período de maior incorporação nos ossos", diz.
É na adolescência que se forma boa parte do volume dos ossos para toda a vida -o pico de massa óssea ocorre entre os 20 e os 30 anos. Uma dieta deficiente em cálcio contribui para um pico mais baixo e aumenta as chances de o indivíduo desenvolver osteoporose.
"A população está envelhecendo, e estamos chegando à terceira idade piores. Acho que haverá casos mais precoces de osteoporose, especialmente mulheres com qualidade óssea muito ruim na menopausa, porque tiveram uma adolescência malcuidada em termos alimentares", alerta a endocrinologista Marise Castro, chefe do Setor de Doenças Osteometabólicas da Unifesp.
Outras deficiências
O trabalho da USP também constatou baixos níveis de vitamina D no sangue dos adolescentes. Esse nutriente tem a função de fixar o cálcio ingerido nos ossos, o que agrava ainda mais a carência do mineral. "Isso tem sido observado. Fizemos um trabalho com 120 trabalhadores jovens e estudantes de medicina; 20% tinham deficiência grave de vitamina D e 40% estavam abaixo do valor saudável", acrescenta Castro.
A deficiência é atribuída, pelos pesquisadores, à falta de sol, já que a maior parte da vitamina é sintetizada pelo organismo com a ajuda da luz solar.
O trabalho nas cinco cidades ainda constatou baixa ingestão de vitamina A e de fibras. "É imprescindível o estímulo ao consumo de frutas e hortaliças. Ele é muito reduzido, mesmo em famílias com maiores rendimentos. Assim, seriam consumidos juntos cálcio, vitaminas e fibras", diz Marina Vieira da Silva, professora da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP, e coordenadora do estudo.