quinta-feira, 31 de março de 2011

Exame pode prever diabetes até dez anos mais cedo

Diagnóstico precoce pode evitar complicações, como cegueira

Um simples exame de sangue pode detectar o diabetes até dez anos antes dos primeiros sintomas da doença começarem a aparecer. De acordo com cientistas do Massachusetts General Hospital, nos Estados Unidos, para isso, basta medir simultaneamente os níveis de cinco aminoácidos presentes no sangue, o que possibilitaria determinar se uma pessoa tem mais chances de desenvolver o diabetes tipo 2. A pesquisa foi publicada no periódico científico Nature Medicine.

“A descoberta nos dá indícios de como acontecem as mudanças do metabolismo no início do processo que leva ao diabetes”, diz Thomas Wang, um dos membros da equipe de pesquisadores.

Novas tecnologias para medir os níveis do metabolismo, mensurando as pequenas moléculas produzidas pela atividade metabólica que são liberadas na corrente sanguínea, têm se tornado o caminho mais seguro para descobrir como o metabolismo de cada pessoa funciona. A técnica pode passar a valer também para exames de diabetes, uma vez que o aparecimento da doença acontece após um longo processo de falência do processo de metabolização da glicose. Com a descoberta da equipe americana, pode ser possível detectar o desenvolvimento da doença a tempo de prevenir determinadas complicação, como a cegueira.

Metabolismo - No estudo da equipe de Massachusetts, descobriu-se que a elevação da concentração dos aminoácidos isoleucina, leucina, valina, tirosina e fenilalanina estava diretamente associada ao aparecimento do diabetes tipo 2. Estudos anteriores já haviam mapeado a maioria desses aminoácidos entre pessoas obesas ou com resistência à insulina. Há evidências ainda de que eles estão diretamente associados à regulação da glicose.

Agora, contudo, os pesquisadores descobriram que medir a presença desses aminoácidos em conjunto é uma técnica mais eficaz, que pode aumentar a precisão da previsão de diabetes. No geral, pessoas que apresentam níveis altos de ao menos três dos cinco aminoácidos correm mais riscos de desenvolver a doença.

“Há vários indícios que mostram que esses aminoácidos ativam de maneira drástica um importante mecanismo do metabolismo envolvido no crescimento celular. Eles podem ainda, de alguma maneira, envenenar a mitocôndria, responsável por prover a célula de energia e sintetizar os aminoácidos”, diz Robert Gerszten, responsável pelo estudo. Segundo o médico, estudos posteriores são necessários para descobrir maneiras de interromper o processo que leva ao diabetes e, assim, evitar a doença.

Fonte

Artigos Relacionados:

• Metabolite profiles and the risk of developing diabetes
Nature Medicine (20 March 2011) doi:10.1038/nm.2307 Article

• New technologies and therapies in the management of diabetes
Am J Manag Care 2007 Apr;13 Suppl 2:S47-54.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Crianças e Vitamina D

Pediatras dobram recomendação de consumo diário de vitamina D

A Sociedade Brasileira de Pediatria vai dobrar a recomendação de consumo diário de vitamina D para crianças e adolescentes: o valor salta de 200 UIs (unidades internacionais) para 400 UIs por dia. A atualização será publicada em maio. No Brasil, o cálculo de consumo de vitamina D é feito em microgramas. Cada UI equivale a 40 mcg. Segundo Elaine Martins Bento, presidente da Associação Paulista de Nutrição, 100 gramas de salmão têm 11,83 mcg de vitamina D ou 473,2 UIs. Cada 100 gramas de gema de ovo possuem 2,08 mcg de vitamina D ou 83,2 UIs.

A alteração do manual da SBP seguirá em parte as novas orientações da Academia Americana de Pediatria, publicadas no início deste mês. Nos EUA, as novas diretrizes recomendam o consumo de 400 UI para crianças de até 18 meses e de 600 UI para as mais velhas, independentemente da exposição solar.

A recomendação para consumo de cálcio continua a mesma: de 1 a 3 anos, 700 mg de cálcio; de 4 a 8 anos 1 g de cálcio.

Ossificação. O consumo de vitamina D é importante porque, junto com o cálcio, ela atua no processo de ossificação. Quando está em falta, pode provocar raquitismo, alterações no crescimento e nos ossos, além de reduzir a imunidade. Em quantidades ideais, diminui o risco de osteoporose na fase adulta.

A principal fonte de vitamina D é a exposição diária à luz do Sol, por ao menos 15 minutos. É ele que estimula a síntese da vitamina no organismo. Alguns alimentos também são fontes, mas em quantidades insuficientes para alcançar as metas.

Segundo Virgínia Resende Silva Weffort, presidente do Departamento de Nutrologia da SBP, o Brasil não vai triplicar a recomendação diária (para 600 UIs) porque, teoricamente, a criança brasileira tem mais exposição à luz solar que as americanas.

"A gente entende que a criança com até 18 meses não se expõe ao Sol e, por isso, a ideia de profilaxia (suplementação de vitamina D com uso de medicamento) é necessária", diz Virgínia.

Para crianças maiores, explica, a suplementação só será necessária caso a criança não consiga atingir a quantidade de vitamina D recomendada apenas com alimentação e luz solar.

A nutricionista Bárbara Santarosa Peters, doutora em saúde pública, diz que dificilmente uma criança vai atingir 400 UIs por dia de vitamina D apenas com comida - mesmo que a alimentação seja rica em leite integral e peixes, fontes da vitamina.

"As crianças não alcançam nem a recomendação antiga, de 200 UIs, apenas com alimentação. Agora vai ficar mais difícil ainda. Será necessário estimular a exposição adequada dessas crianças ao Sol", diz.

Segundo Bárbara, muitas pessoas ainda acreditam que o Brasil não tem déficit de vitamina D por ser um país ensolarado, ao contrário dos Estados Unidos. Mas, em um trabalho feito com adolescentes do interior de São Paulo, ela constatou que 62% deles estavam com níveis baixos da vitamina - embora morassem em uma região ensolarada. "As discussões a respeito disso no Brasil ainda são muito recentes. Mas, sem suplementação com medicamentos ou fortificação dos alimentos, acho difícil alcançarmos a recomendação."

Hélio Fernandes da Rocha, do Departamento de Nutrologia da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro, diz que vai seguir as recomendações, mas as considera desnecessárias para o Brasil. "Estamos nos baseando em pesquisas americanas porque não temos trabalhos brasileiros para contrapor os dados."

Para Rocha, os níveis de insolação no Brasil são suficientes para a criança atingir a quantidade necessária de vitamina D, sem precisar recorrer à medicação.

PARA LEMBRAR
No ano passado, tanto o Ministério da Saúde dos Estados Unidos quanto cientistas recomendaram o consumo de leite de vaca por adultos. Os motivos são a riqueza nutricional e a raridade de casos de intolerância e alergia ao produto.

Segundo os especialistas, não se justifica retirá-lo da dieta sem ter certeza de que há algum problema de saúde que contraindique seu consumo.

Os pesquisadores reforçaram que não há evidências científicas de que o leite de vaca cause doenças respiratórias como a asma, por exemplo. Por outro lado, ainda é controverso que o leite seja benéfico para úlceras, por exemplo, como diz a sabedoria popular.

Não há motivo, portanto, para a maioria da população não seguir a recomendação que consta no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, que preconiza três porções de leite e derivados por dia - uma porção é um copo de leite, por exemplo. Segundo a pasta, o leite é a melhor fonte de cálcio, mineral essencial para a saúde dos ossos, mas o País registra redução de consumo.

Artigo Relacionados:

• Active surveillance: an essential tool in safeguarding the health and well-being of children and youth.
CMAJ;177(2):169-71, 2007 Jul 17

• Primary care pediatrician knowledge of nutritional rickets.
J Natl Med Assoc;94(11):971-8, 2002 Nov.
Pediatras dobram recomendação de consumo diário de vitamina D
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